As donas-de-casa, comerciantes e consumidores razoáveis sabem de cor que o tamanho da compra varia com a demanda por ela. Também sabem que a aquisição em demasia do que é perecível gera um excedente na maioria das vezes pouco estratégico. Mas, para o Estado, oferta e procura não estão no mesmo gráfico, e a matemática, segue fazendo vítimas – de verdade.
Na Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe, o problema das 10 toneladas de remédios vencidos, empilhados e inúteis nas dependências do Almoxarifado Central não têm prazo de validade. Sem condições para destruir as substâncias, o Estado culpa a falta de planejamento das gestões anteriores e retém os medicamentos à espera de parcerias para eliminá-los.
Para a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Saúde, o montante de 10 toneladas é uma herança do fracasso estratégico da administração passada. A principal falha, segundo o setor, estaria na falta de uma análise criteriosa do histórico de consumo dos remédios, medida que evitaria a compra descontrolada de substâncias sem demanda. “Chegaram a adquirir 800 cápsulas de um medicamento que não foi consumido sequer uma vez num ano”, revela a assessoria. Também foi dito que o vencimento dos remédios não foi provocado somente pela falta de uso. “Em alguns casos, as substâncias eram adquiridas poucos meses antes de ser extrapolado o prazo de validade”.
No início da gestão do secretário de saúde Rogério Carvalho, uma parte dos medicamentos ainda estava por vencer. De acordo com informações da assessoria, algumas medidas foram tomadas para aproveitar imediatamente as substâncias antes que o prazo de validade expirasse. “Doamos medicamentos para 53 municípios sergipanos e estabelecemos permuta com os estados de São Paulo e Acre. Pegamos o que estávamos precisando e cedemos o que tínhamos a mais. Tudo isso sem custos para a Secretaria”, esclareceu o setor.
Aqui, não
Mas, se há endereço certo para os remédios por vencer, ainda não há destino para a massa adormecida e sem serventia no Almoxarifado Central. Em Sergipe, não há equipamento adequado para incineração de remédios ou de quaisquer resíduos que ofereçam riscos ao meio-ambiente. O incinerador do Hospital João Alves, desativado, exigiria uma manutenção muito dispendiosa. A solução, nesse caso, estaria além dos limites do Estado. “Estamos tentando estabelecer um convênio com empresas de fora que possam realizar esse serviço”, explica a assessoria. De acordo com Carlos Augusto Leão Ferreira, diretor de fiscalização da Administração do Estado do Meio Ambiente (ADEMA), a incineração de resíduos não pode em nenhuma circunstância ser efetuada em Sergipe. “Atualmente esse tipo de serviço só pode ser feito em uma fábrica em Marechal Deodoro, Alagoas, ou em uma empresa de Camaçari, Bahia”.
O esforço no estabelecimento de uma parceria para a eliminação dos medicamentos é confirmado pela Vigilância Sanitária. De acordo com a gerente de medicamentos Cristiane Oliveira Costa, o problema há muito tem caráter emergencial. “Já está havendo perda de espaço para estocar remédios novos”, alerta. Responsável pelo fluxo de medicamentos na rede hospitalar privada, Costa aponta o acúmulo e a invalidação de medicamentos como algo já cultural, intrínseco ao sistema de saúde brasileiro. “No estoque de medicamentos, há uma regra básica: o primeiro que entra é o primeiro que sai. E isso, na maioria das vezes, não acontece”.
Por Igor Matheus
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