Em 1º de Junho de 1808 nascia a Imprensa no Brasil. E como (quase) tudo no país, o processo foi (e ainda é) extremamente contestado, caindo naquele típico jargão do “só podia ter acontecido no Brasil mesmo...”.
O criador: Hipólito José da Costa – um brasileiro nascido em Sacramento, hoje terra do Uruguai. A criação: O Correio Braziliense, 1º jornal a circular no país tinha cara de livro, mais de 100 páginas e era impresso em Londres. A linha Editorial: tinha um caráter marcadamente doutrinário de propagação de idéias liberais, não tinha preocupação de informar. Criticava abertamente a presença da Corte Real Portuguesa no Brasil.
Em linhas frias: Um brasiguaio criou um jornalão-calhamasso de textos longos, quase panfletário e sem o tal compromisso com a notícia, que além de tudo era editado e impresso fora do país. O Correio só aparecia por essas bandas graças à pirataria sempre presente entre os marinheiros, que traziam as mercadorias por debaixo dos panos. O jornal já tinha três edições, quando a Gazeta do Rio de Janeiro – jornal da coroa portuguesa no país – começou a ser impresso na Imprensa Régia, no Rio de Janeiro. Nada mais Brasil do que isso.
O mais interessante dessa história é o caráter individual dessa criação. O patrono da Imprensa Nacional fez todo o trabalho sozinho. Criação, edição, diagramação e impressão. E pode ter dado o 1º furo do país – antecipando-se a criação da Gazeta real.
A profissão de jornalista no país ainda acompanha esse início individualista. Mesmo com o estágio atual de profissionalização, divisão de tarefas e racionalidade de produção, o bom trabalho jornalístico continua sendo fruto essencialmente de um único bom jornalista. O que numa primeira vista pode parecer óbvio, mas que traz muitos desdobramentos. Escrevemos sós e para todos.
A solidão ainda acompanha o jornalista em boa parte da sua vida. Em deadlines cada vez mais mortais, o profissional, mesmo na agitação nas redações – cada vez mais apertadas - só tem a companhia do seu reflexo na tela do computador na maior parte do seu tempo de trabalho. Como diria o beat Charles Bukowski – “Não que eu me orgulhe dessa solidão, mas é que ela faz parte de mim”.
Outro viés desta singularidade básica é certa visão de egocentrismo das pessoas e dos próprios jornalistas sobre o profissional das notícias. Desde cedo, nas Faculdades de Jornalismo, ainda são muitos os estudantes que sonham ser o William Bonner ou a Fátima Bernardes. A consciência de categoria passa longe de ser matéria pré-requisito do curso.
Passam-se alguns anos de curso e vários já se desencantam com essa visão hegemônica e personalista de Imprensa, percebendo que a profissão é muito menos midiática e romântica do que parecia. Mas não menos importante. Outros ainda continuam com essa visão e tentam manter esse modelo padronizador desnecessário de showrnalismo.
Todo esse individualismo adquirido acaba por criar um ambiente cada vez mais hostil entre os profissionais da área. Razão esta que pode explicar a atual crise de representatividade nos Sindicatos de Jornalismo no país, que por sua vez expõe a causa de não haver um Conselho Nacional de Jornalismo. Nas palavras de Pedro Venceslau, em matéria da Revista IMPRENSA (setembro de 2007) – “Fica difícil falar em Conselho e punição quando a categoria está tão distante dos seus representantes sindicais”.
Nesse ponto, a solidão inata da área termina por deixar os profissionais à mercê dos grandes conglomerados de comunicação editorializantes, que preferem ver um jornalismo pasteurizado e padronizado, que represente sua visão e seus interesses, a uma independência que é intrínseca a um bom profissional.
Que celebremos essa data histórica com toda a pompa que ela merece, apesar de tudo. Afinal não é todo dia que nos juntamos para fazer alguma coisa. Lembremos também à importância de Hipólito José da Costa em cada texto e que seu exemplo (com todas as ressalvas históricas) guie nossa tão almejada liberdade de expressão solitária, 200 anos depois.
Por Luiz Paulo Costa
O criador: Hipólito José da Costa – um brasileiro nascido em Sacramento, hoje terra do Uruguai. A criação: O Correio Braziliense, 1º jornal a circular no país tinha cara de livro, mais de 100 páginas e era impresso em Londres. A linha Editorial: tinha um caráter marcadamente doutrinário de propagação de idéias liberais, não tinha preocupação de informar. Criticava abertamente a presença da Corte Real Portuguesa no Brasil.
Em linhas frias: Um brasiguaio criou um jornalão-calhamasso de textos longos, quase panfletário e sem o tal compromisso com a notícia, que além de tudo era editado e impresso fora do país. O Correio só aparecia por essas bandas graças à pirataria sempre presente entre os marinheiros, que traziam as mercadorias por debaixo dos panos. O jornal já tinha três edições, quando a Gazeta do Rio de Janeiro – jornal da coroa portuguesa no país – começou a ser impresso na Imprensa Régia, no Rio de Janeiro. Nada mais Brasil do que isso.
O mais interessante dessa história é o caráter individual dessa criação. O patrono da Imprensa Nacional fez todo o trabalho sozinho. Criação, edição, diagramação e impressão. E pode ter dado o 1º furo do país – antecipando-se a criação da Gazeta real.
A profissão de jornalista no país ainda acompanha esse início individualista. Mesmo com o estágio atual de profissionalização, divisão de tarefas e racionalidade de produção, o bom trabalho jornalístico continua sendo fruto essencialmente de um único bom jornalista. O que numa primeira vista pode parecer óbvio, mas que traz muitos desdobramentos. Escrevemos sós e para todos.
A solidão ainda acompanha o jornalista em boa parte da sua vida. Em deadlines cada vez mais mortais, o profissional, mesmo na agitação nas redações – cada vez mais apertadas - só tem a companhia do seu reflexo na tela do computador na maior parte do seu tempo de trabalho. Como diria o beat Charles Bukowski – “Não que eu me orgulhe dessa solidão, mas é que ela faz parte de mim”.
Outro viés desta singularidade básica é certa visão de egocentrismo das pessoas e dos próprios jornalistas sobre o profissional das notícias. Desde cedo, nas Faculdades de Jornalismo, ainda são muitos os estudantes que sonham ser o William Bonner ou a Fátima Bernardes. A consciência de categoria passa longe de ser matéria pré-requisito do curso.
Passam-se alguns anos de curso e vários já se desencantam com essa visão hegemônica e personalista de Imprensa, percebendo que a profissão é muito menos midiática e romântica do que parecia. Mas não menos importante. Outros ainda continuam com essa visão e tentam manter esse modelo padronizador desnecessário de showrnalismo.
Todo esse individualismo adquirido acaba por criar um ambiente cada vez mais hostil entre os profissionais da área. Razão esta que pode explicar a atual crise de representatividade nos Sindicatos de Jornalismo no país, que por sua vez expõe a causa de não haver um Conselho Nacional de Jornalismo. Nas palavras de Pedro Venceslau, em matéria da Revista IMPRENSA (setembro de 2007) – “Fica difícil falar em Conselho e punição quando a categoria está tão distante dos seus representantes sindicais”.
Nesse ponto, a solidão inata da área termina por deixar os profissionais à mercê dos grandes conglomerados de comunicação editorializantes, que preferem ver um jornalismo pasteurizado e padronizado, que represente sua visão e seus interesses, a uma independência que é intrínseca a um bom profissional.
Que celebremos essa data histórica com toda a pompa que ela merece, apesar de tudo. Afinal não é todo dia que nos juntamos para fazer alguma coisa. Lembremos também à importância de Hipólito José da Costa em cada texto e que seu exemplo (com todas as ressalvas históricas) guie nossa tão almejada liberdade de expressão solitária, 200 anos depois.
Por Luiz Paulo Costa
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