Após a separação entre Estado e Igreja, decretada em 1890, o Brasil deixou de ser um país oficialmente católico. E, se em séculos passados a Igreja conquistava territórios e queimava pessoas em fogueiras, hoje tenta apenas "segurar" seus fiéis.
Fiéis estes que são o último bastião desta religião, ainda a mais influente do país, ao doutrinarem seus filhos do mesmo modo que seus pais. Mas, em meio a tantas vertentes religiosas e pais mais liberais – que não se prendem a crenças – como conseguir atrair e manter os jovens na igreja?
Um dos problemas enfrentados pelas igrejas tradicionais, em especial a católica, é o fato de não mudarem suas visões reacionárias. Por isso, para muitos jovens, a igreja é apenas um órgão repressor e hipócrita – constantes restrições às pesquisas científicas, ao sexo, ao uso de anticoncepcionais e à liberdade sexual (apesar dos escândalos de pedofilia e homossexualismo). Outro está relacionado ao estilo de seus cultos, como mostra o adolescente Diego Luiz, 14 anos. “Eu não gosto daqueles sermões demorados e nem daquelas músicas”.
Em “Pesquisas sobre stress no Brasil”, da psicóloga e professora Marilda Emmanuel Novaes Lipp, da Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), constatou-se que o medo de Deus é uma das causas de stress em crianças. Porém, não chega a ser um problema religioso: “Em sua maioria, a imagem punitiva de Deus parte dos pais. É uma questão puramente de educação, porque Deus não vai causar mal para ninguém”, afirma.
Para Frei Betto, talvez essas ameaças feitas pelos pais – “Não faça isso que Deus castiga!” – sejam a razão de muitas crianças, ao se tornarem adolescentes, desinteressarem-se da religião. No entanto, ainda há muitos que buscam “a sua fé”. Seja em religiões mais clássicas ou em tradições afro-brasileiras e orientais.
Segundo o último censo realizado (Censo 2000), o número de jovens católicos no país diminuiu, enquanto os “sem-religião” cresceram. Ainda assim, de acordo com o instituto alemão Bertelsmann Stiftung, a juventude brasileira é a terceira mais religiosa do mundo.
A pesquisa alemã também mostrou que 90% dos jovens acreditam em vida após a morte, 74% rezam ao menos uma vez por dia, 35% seguem e aceitam os preceitos da religião escolhida e 65% declararam-se muito religiosos.
Eline Silva da Cunha, 25 anos, é um exemplo desses jovens.“As pessoas estão perdendo o respeito pelos outros e por si mesmas. O que me motiva a ir a igreja é a certeza de que essa vida é apenas uma passagem rápida e se todos seguíssemos os ensinamentos de Jesus haveria mais paz no mundo”. Dayane Mattos, 22 anos, também defende a importância da religião. “Me sinto bem quando vou à igreja. Gosto de ouvir a pregação, de aprender mais sobre a bíblia e de participar de atividades da igreja. Para mim, a igreja é como uma família”.
Por outro lado, há os mais moderados, como a estudante Lidiane Menezes, 20 anos. “As pessoas dizem que a igreja é a casa de Deus. Pode até ser, mas eu não preciso ir sempre lá para estar perto Dele, às vezes uma simples oração é mais eficiente”.
Distante do showbusiness das igrejas modernas, a velha-guarda religiosa faz o ‘marketing’ divino de acordo com o tradicionalismo. Sem músicas agitadas, coreografias incrementadas e padres-astro, a igreja conservadora dispõe apenas de seus cânticos e sermões.
Gráfico: Contexto On-Line/ Natália Vasconcellos (baseado no gráfico da Bertelsmann Stiftung)
Por Larissa Ferreira
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