A Universidade Federal de Sergipe (UFS) disponibilizará sete novos cursos a partir do concurso vestibular de 2009, que acontecerá entre 7 e 10 de dezembro de 2008. A política de expansão, que já é implantada na Federal há algum tempo, este ano reflete sua adesão ao REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais –, assinada em outubro de 2007. Dentre as novidades estão as carreiras de Biblioteconomia e Documentação, Engenharia Eletrotécnica e Relações Internacionais.
O destaque na procura foi justamente para Relações Internacionais (RI). O curso ficou à frente de todas as opções inéditas até este processo seletivo, com 348 inscritos e 6,96 candidatos por vaga, numa oferta de 50. Os números demonstram uma demanda razoável pela área em Sergipe – um interesse que, nos últimos anos, tem levado pessoas do Estado a mudar-se para outras regiões do país em busca do bacharelado. Um dos atrativos do campo para os estudantes é o seu pluralismo: “o mais notório na disciplina de Relações Internacionais é a sua maleabilidade. O internacionalista estuda diversos campos, como Direito, Comércio, Política”, descreve Andréa Motta, aluna sergipana do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS).
Demanda global
Sergipe passa longe de estar sozinho no interesse pelo curso. Isso acontece, na verdade, a nível mundial. “As explicações para o aumento de interesse na área de RI podem ser creditadas à importância que o mundo globalizado, a formação dos megablocos e a informação instantânea têm exercido sobre todos, rompendo distâncias e fronteiras, ligando países e continentes”, diz Shiguenoli Miyamoto, professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em artigo sobre o assunto. Ou seja: como há uma aproximação hoje muito mais clara das relações entre as nações– relações de interdependência, inclusive –, é natural que exista uma valorização das Relações Internacionais.
No Brasil, isso se tornou mais nítido a partir dos anos 1990. Nessa década, o país se afirmava política e economicamente. Teve papel de importância em algumas ações internacionais, muitas envolvendo o Mercosul, por exemplo. Isso liberou um mercado profissional que estava retido, entre vários outros fatores, pela situação anterior de instabilidade econômica. O resultado foi um grande aumento de cursos de Relações Internacionais e Comércio Exterior por aqui. Ano que vem, além da UFS, instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também passam oferecer o curso de RI. “O crescimento da área de Relações Internacionais, academicamente, se dá à medida que o país se projeta no cenário internacional”, pontua Miyamoto.
As Relações Internacionais na UFS
Segundo o professor Napoleão Queiroz, diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da UFS, uma das práticas da expansão universitária utilizadas na UFS é criar cursos que possam ser amparados inicialmente por áreas científicas que já existam dentro da instituição de ensino. É por isso que, para implantar as Relações Internacionais na casa, ele contou com o apoio, por exemplo, do Departamento de Direito (DDI). “Como no Departamento de Direito já existia a iniciativa do NEPRIN, ele acabou sendo um ponto de partida, mesmo não tendo participado efetivamente da elaboração do projeto”, informa ele, referindo-se ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Relações Internacionais do DDI.
A grade do curso foi produzida aos moldes do plano da Universidade de Brasília, que tem uma afinidade maior com a Diplomacia, diz Queiroz. “Com esse embasamento, acho importante que a coordenação do curso esteja a cargo dos professores de Direito”, assinala. Mas equilibra: “neste momento de pontapé inicial o viés aponta mais para essa área, porém tudo depende da determinação do estudante e da formação dos professores que vão ingressar no curso”.
A professora Djalma Andrade, diretora do Departamento de Apoio Didático-Pedagógico (DEAPE) da UFS, considera que, com os seus 40 créditos optativos, o curso de Relações Internacionais da UFS pode chegar a contemplar bem a diversidade do campo. “O aluno é quem vai fazer seu percurso numa área de melhor aptidão”, diz. “Mas num primeiro momento de funcionamento do curso, nós não temos um elenco de professores completo – é por isso, nesse caso, que é necessária essa base na Diplomacia”.
Queiroz e Andrade concordam que a criação do curso de Comércio Exterior, ainda a ser aprovada, poderia ajuda a solidificar uma proposta plural para o de Relações Internacionais. Nesse caso, seria possível também que o aluno fizesse uma graduação dupla. “Os cursos poderiam andar em paralelo até certo ponto, sendo possível para o aluno de um cursar o outro com dois ou três semestres a mais”, confirma Djalma Andrade.
Napoleão Queiroz admite que a questão do ambiente físico ainda é uma dificuldade para Relações Internacionais e os outros cursos novos do CCSA. “Esse é o principal problema”, diz, “mas as soluções já estão sendo viabilizadas”. Alguns espaços do Centro que estavam sendo utilizados por outras entidades serão novamente disponibilizados em 2009, e em 2010 um novo prédio será construído para as Ciências Sociais Aplicadas, que deve chegar a abarcar doze cursos.
Também já está prevista, segundo a professora Andrade, a extensão universitária para o curso de RI, podendo ser criado um escritório de negócios para inserir os estudantes no mercado de trabalho. “Ele deverá representar um espaço para consultoria gerencial constituída e gerida pelos alunos de graduação, com a supervisão dos professores”, afirma.
Stephanie Donald, aluna da terceira série que prestará vestibular para Relações Internacionais na UFS este ano, diz que espera “um corpo docente qualificado e participativo, com uma mentalidade aberta para debater e lidar com diferentes idéias”. Quanto ao receio das dificuldades que pode encontrar na Federal, ela cita “o medo das greves na instituição, e de tentar entrar no mercado de trabalho com a qualificação em uma instituição pequena em relação às demais – USP, UnB, Puc”. “Espero que a UFS procure expandir seus horizontes, disponibilizando bons programas de extensão e até mesmo programas de intercâmbio com outros países e suas respectivas instituições”, conta.
Por Ricardo Gomes
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