As eleições americanas foram o evento mais comentado dos últimos dias. Aqui do Brasil, acompanhamos nos principais noticiários o quanto esse pleito em particular mexeu com o povo americano e com o resto do mundo.
Thiago Rocha, estudante do 6º período da UFS, escolhido pela Embaixada Americana juntamente com mais 24 brasileiros, teve a oportunidade de acompanhar, por dez dias, toda a movimentação que resultou na vitória do primeiro presidente negro dos E.U.A, o democrata Barack Obama.
O universitário falou ao Contexto Online sobre a experiência de acompanhar de perto as eleições, contando um pouco sobre o comportamento dos americanos, da mídia e dos candidatos.
Contexto On-line - Como foram esses dez dias acompanhando as eleições norte-americanas?
Thiago Rocha – Posso dizer que foi algo muito diverso e completo. Primeiro ficamos por quatro dias em treinamento, em São Paulo, com o pessoal da embaixada, do consulado. No dia 25, chegamos em Raleigh, Carolina do Norte e ficamos hospedados na North Carolina State University.
Lá tivemos um primeiro contato cultural, que nos fez sentir um pouco do clima predominante na população. Foi numa feira, uma festa tradicional. Várias pessoas estavam vestidas com camisas, usando broches, manifestando o apoio aos dois candidatos.
As atividades posteriores contaram com palestras ministradas por professores e estudiosos em política, além de visitas a partidos, locais de votação e comícios. Fomos ao de Obama e ao de Sarah Palin e pudemos analisar o clima e como funciona a política americana.
CO - Como você sentiu o clima de disputa entre Obama e McCain?
TR - A política americana é muito polarizada. Essa polarização se dá em questões pessoais e principalmente de governo. Quando fomos ao comício de Barack Obama, pudemos perceber o quanto as pessoas estavam esperançosas. O índice de 74% de desaprovação do governo Bush foi o maior trunfo do democrata. McCain também pregou mudanças, mas as pessoas não consideraram.
CO - O que deu pra perceber durante os comícios?
TR - O de Obama era bem diverso e composto de pessoas com idéias mais liberais como as dele, como a defesa do casamento gay, do aborto. Além da questão econômica, que também influenciou o comportamento dos eleitores, pois Obama mostrou propostas que beneficiariam a classe média em detrimento dos mais ricos. Um exemplo foi a questão tributária, em que ele prometeu baixar impostos sobre a classe média e os trabalhadores e incidí-los para os americanos que ganham mais de US$ 250 mil por ano. Era justamente esta elite que, preocupada, marcava presença no de Sarah Palin.
CO - Explique-nos um pouco como funciona o processo eleitoral dos Estados Unidos
TR - O sistema eleitoral é muito complexo. É difícil tentar resumi-lo e explicá-lo com poucas palavras. Essa experiência fez entender como funciona. Vale citar algumas especificidades, como, por exemplo, o fato de ser possível que um candidato seja eleito sem a maioria dos votos. Isto ocorreu apenas três vezes em toda a história americana, a última foi com George W. Bush.
Cada Estado pode, também, realizar a sua própria eleição, pois como a escolha do presidente toma o foco dos americanos, alguns preferem realizar em períodos diferentes. Junto com a escolha do presidente só 11 estados elegeram governadores.
CO - Além dessa flexibilidade, o que mais há de específico no processo?
TR - Chamou a atenção o número de cargos que as pessoas escolhem de uma só vez. Aqui no Brasil, em algumas eleições, escolhemos apenas dois candidatos, como prefeito e vereador. Na Carolina do Norte os eleitores votaram em 39 cargos, tornando a eleição muito abrangente. Outras coisas que posso citar são o voto antecipado e o fato de ser facultativo.
CO - E como é a participação dos eleitores, já que eles não são obrigados a votar?
TR - Desta vez o envolvimento dos eleitores foi grande, uma coisa nunca vista antes. Em 2004, 122 milhões de americanos votaram. Este ano entre 127 e 130 milhões de americanos foram às urnas. Não foi recorde em porcentagem, mas em número absoluto.
CO - Aqui no Brasil também acabamos de sair de um período eleitoral. Durante as campanhas, os candidatos acabam, às vezes, ‘trocando farpas’, acusações e partindo para a baixaria. Os candidatos americanos têm comportamento semelhante?
TR - Com certeza. Alguns especialistas com quem tivemos contato disseram que este ano superou tudo o que se tinha visto em baixaria. Obama tentava a todo momento vincular a imagem de McCain à de melhor amigo de Bush e chegou a chamá-lo de antiquado, dizendo que ele não sabia nem enviar um e-mail.
McCain, por sua vez, tratava o rival como socialista e até ironizou uma das propostas de Obama em levar a educação sexual para a escola básica, perguntando se as crianças iriam aprender sobre sexo antes mesmo de aprenderem a falar.
CO - Barack Obama carrega consigo um “clichê” de ser “o primeiro presidente negro” daquele país. A questão racial exerceu influência direta, de alguma forma, para a vitória dele?
TR - Aproximadamente 95% dos negros votaram em Obama. Quando questionados, muitos não confirmavam que a cor determinava a decisão do voto, alegavam que o fator racial não era o mais considerado. Mas, pensando historicamente, os negros nunca tiveram muitos representantes. Em Obama eles viram essa figura. Claro, existia o medo de que ocorresse o chamado “Efeito Bradley”, e que, nas urnas, as pessoas não o elegessem por ser um negro.
CO - Então o que teria pesado mais na decisão dos eleitores?
TR - Acredito que a questão econômica foi superior à questão racial. 60% da população em geral votou por esse fato. Obama despertou a confiança em vários aspectos, inclusive pela sua competência política, demonstrada pelo grande salto que deu, politicamente, nos últimos quatro anos. A vitória dele, sem dúvida, foi algo simbólico e importante. Os jornais ressaltaram muito, nas manchetes, esse título de primeiro presidente negro, após o resultado.
CO - Em que aspectos a mídia americana se assemelha à brasileira no tratamento às eleições?
TR - Aqui os jornais não tomam partido e nem apóiam declaradamente um candidato. Lá eles fazem o contrário, explicitando a sua preferência nos editoriais. Grandes jornais americanos apoiaram Obama e explicaram o porquê. As matérias tratavam dos dois e não eram tendenciosas, você percebe um certo equilíbrio.
Na contagem de votos, por exemplo, enquanto aqui no Brasil os veículos apenas repassam os dados contabilizados pela Justiça Eleitoral, nos E.U.A. a imprensa praticamente faz essa contagem e já começa a projetar o vencedor mesmo com os resultados de uma porcentagem pequena de votos contados.
CO - O que você absorveu dessa experiência? De alguma forma ela influenciará sua carreira?
TR - Foi essencial para dar uma visão futura do que pretendo fazer profissionalmente. Sempre tive interesse em política internacional e o programa foi uma chance de confirmar isto. Essa oportunidade foi completa em todos os sentidos: cultural, político, pessoal, acadêmico, profissional... e ajudará na possibilidade de eu fazer um mestrado lá. Pode ser o meu primeiro passo após a formatura; os contatos que fiz ajudarão nessa possibilidade.
As atividades posteriores contaram com palestras ministradas por professores e estudiosos em política, além de visitas a partidos, locais de votação e comícios. Fomos ao de Obama e ao de Sarah Palin e pudemos analisar o clima e como funciona a política americana.
CO - Como você sentiu o clima de disputa entre Obama e McCain?
TR - A política americana é muito polarizada. Essa polarização se dá em questões pessoais e principalmente de governo. Quando fomos ao comício de Barack Obama, pudemos perceber o quanto as pessoas estavam esperançosas. O índice de 74% de desaprovação do governo Bush foi o maior trunfo do democrata. McCain também pregou mudanças, mas as pessoas não consideraram.
CO - O que deu pra perceber durante os comícios?
TR - O de Obama era bem diverso e composto de pessoas com idéias mais liberais como as dele, como a defesa do casamento gay, do aborto. Além da questão econômica, que também influenciou o comportamento dos eleitores, pois Obama mostrou propostas que beneficiariam a classe média em detrimento dos mais ricos. Um exemplo foi a questão tributária, em que ele prometeu baixar impostos sobre a classe média e os trabalhadores e incidí-los para os americanos que ganham mais de US$ 250 mil por ano. Era justamente esta elite que, preocupada, marcava presença no de Sarah Palin.
CO - Explique-nos um pouco como funciona o processo eleitoral dos Estados Unidos
TR - O sistema eleitoral é muito complexo. É difícil tentar resumi-lo e explicá-lo com poucas palavras. Essa experiência fez entender como funciona. Vale citar algumas especificidades, como, por exemplo, o fato de ser possível que um candidato seja eleito sem a maioria dos votos. Isto ocorreu apenas três vezes em toda a história americana, a última foi com George W. Bush.
Cada Estado pode, também, realizar a sua própria eleição, pois como a escolha do presidente toma o foco dos americanos, alguns preferem realizar em períodos diferentes. Junto com a escolha do presidente só 11 estados elegeram governadores.
CO - Além dessa flexibilidade, o que mais há de específico no processo?
TR - Chamou a atenção o número de cargos que as pessoas escolhem de uma só vez. Aqui no Brasil, em algumas eleições, escolhemos apenas dois candidatos, como prefeito e vereador. Na Carolina do Norte os eleitores votaram em 39 cargos, tornando a eleição muito abrangente. Outras coisas que posso citar são o voto antecipado e o fato de ser facultativo.
CO - E como é a participação dos eleitores, já que eles não são obrigados a votar?
TR - Desta vez o envolvimento dos eleitores foi grande, uma coisa nunca vista antes. Em 2004, 122 milhões de americanos votaram. Este ano entre 127 e 130 milhões de americanos foram às urnas. Não foi recorde em porcentagem, mas em número absoluto.
CO - Aqui no Brasil também acabamos de sair de um período eleitoral. Durante as campanhas, os candidatos acabam, às vezes, ‘trocando farpas’, acusações e partindo para a baixaria. Os candidatos americanos têm comportamento semelhante?
TR - Com certeza. Alguns especialistas com quem tivemos contato disseram que este ano superou tudo o que se tinha visto em baixaria. Obama tentava a todo momento vincular a imagem de McCain à de melhor amigo de Bush e chegou a chamá-lo de antiquado, dizendo que ele não sabia nem enviar um e-mail.
McCain, por sua vez, tratava o rival como socialista e até ironizou uma das propostas de Obama em levar a educação sexual para a escola básica, perguntando se as crianças iriam aprender sobre sexo antes mesmo de aprenderem a falar.
CO - Barack Obama carrega consigo um “clichê” de ser “o primeiro presidente negro” daquele país. A questão racial exerceu influência direta, de alguma forma, para a vitória dele?
TR - Aproximadamente 95% dos negros votaram em Obama. Quando questionados, muitos não confirmavam que a cor determinava a decisão do voto, alegavam que o fator racial não era o mais considerado. Mas, pensando historicamente, os negros nunca tiveram muitos representantes. Em Obama eles viram essa figura. Claro, existia o medo de que ocorresse o chamado “Efeito Bradley”, e que, nas urnas, as pessoas não o elegessem por ser um negro.
CO - Então o que teria pesado mais na decisão dos eleitores?
TR - Acredito que a questão econômica foi superior à questão racial. 60% da população em geral votou por esse fato. Obama despertou a confiança em vários aspectos, inclusive pela sua competência política, demonstrada pelo grande salto que deu, politicamente, nos últimos quatro anos. A vitória dele, sem dúvida, foi algo simbólico e importante. Os jornais ressaltaram muito, nas manchetes, esse título de primeiro presidente negro, após o resultado.
CO - Em que aspectos a mídia americana se assemelha à brasileira no tratamento às eleições?
TR - Aqui os jornais não tomam partido e nem apóiam declaradamente um candidato. Lá eles fazem o contrário, explicitando a sua preferência nos editoriais. Grandes jornais americanos apoiaram Obama e explicaram o porquê. As matérias tratavam dos dois e não eram tendenciosas, você percebe um certo equilíbrio.
Na contagem de votos, por exemplo, enquanto aqui no Brasil os veículos apenas repassam os dados contabilizados pela Justiça Eleitoral, nos E.U.A. a imprensa praticamente faz essa contagem e já começa a projetar o vencedor mesmo com os resultados de uma porcentagem pequena de votos contados.
CO - O que você absorveu dessa experiência? De alguma forma ela influenciará sua carreira?
TR - Foi essencial para dar uma visão futura do que pretendo fazer profissionalmente. Sempre tive interesse em política internacional e o programa foi uma chance de confirmar isto. Essa oportunidade foi completa em todos os sentidos: cultural, político, pessoal, acadêmico, profissional... e ajudará na possibilidade de eu fazer um mestrado lá. Pode ser o meu primeiro passo após a formatura; os contatos que fiz ajudarão nessa possibilidade.
Thiago com grupo de brasileiros
Por Diógenes de Souza
Um comentário:
esse menino deve ser orgulho para os pais
Postar um comentário