“Eu gosto de política, não de político”. Esse é o tom dado por Kátia Santana em entrevista ao Contexto Online. Em uma informal conversa nos bastidores do Jornal da Cidade, a jornalista fala sobre sua carreira, seu blog “Café com Política”, além do polêmico livro “Ecos da Política – uma retrospectiva histórica de 1982 a 2001”, lançado há seis anos e que dividiu a imprensa sergipana entre críticas e elogios.
Contexto - Quando você percebeu que tinha vocação para ser jornalista?
Kátia Santana - Na verdade eu sempre gostei de “me aparecer” (risos). Confesso que não sei exatamente quando surgiu o sonho de ser jornalista, mas desde pequena sabia que essa seria minha área. Cheguei a passar no vestibular para Serviço Social e Letras Português/Inglês, ambos na Universidade Federal de Sergipe (UFS), mas nem me matriculei. À época, a Federal não tinha o curso de Jornalismo, então eu estudei por conta própria e paguei a taxa de inscrição da Universidade Tiradentes (Unit), por meio de meu trabalho como auxiliar de consultório odontológico. Não me arrependo das escolhas que fiz. Respiro jornalismo e sou apaixonada pela profissão, tanto que estou nela há 11 anos.
Contexto – O que mais te chama atenção no jornalismo?
Kátia Santana - A capacidade de fazer a mediação entre fato e público. Confesso que tenho uma “tara” pela notícia, pela informação. O jornalista acaba sabendo mais, acaba construindo fontes que lhe dão certos privilégios da informação.
Contexto – Como surgiu a oportunidade de fazer jornalismo na área de política?
Kátia Santana – Eu entrei na área de política por acaso. Meu primeiro emprego como jornalista foi na editoria Geral do Diário de Aracaju, veículo que atualmente não existe mais. Sempre fui muito rebelde, muito ousada, havia problemas de não pagamento e por isso resolvi fazer greve. Acabei saindo de lá. Nesse período eu tinha feito uma entrevista com o então presidente da Câmara Legislativa, Sérgio Góis, ele gostou e me convidou para trabalhar como assessora lá do órgão. Foi quando o ex-diretor do Jornal da Cidade, José Araujo Santana, me chamou para trabalhar na área de política e eu topei o desafio. Fiquei por um tempo como editora, mas nem gostei muito: há muita cobrança, visto que a editoria de política é como se fosse a “menina dos olhos” de todo dono de jornal, mesmo se ele não for político. Enfim, me identifico muito com a área. É bom frisar, eu gosto de política e não de político.
Contexto - E como é fazer jornalismo político em Sergipe? Quais as dificuldades?
Kátia Santana - Eu não diria apenas em Sergipe, mas em qualquer parte deste país a grande dificuldade é a interferência. Infelizmente, manda quem tem dinheiro. Se você fere o brilho de quem quer que seja que tenha grana, certamente esse cidadão vai ligar para o dono do jornal e dizer: “olhe, ou você muda o tom de suas matérias ou não vou mais anunciar no seu jornal”. Outra coisa é quando o dono do jornal tem vários amigos políticos. Aí é o inferno, pois você tem que fazer a lista de amigos e inimigos do seu patrão. Essa coisa de liberdade de imprensa é falácia pura, pois ela vai até o dia em que o dono do jornal ache que ela valha a pena
Contexto – De onde partiu a idéia de criar um blog?
Kátia Santana - Eu sou muito inquieta, não gosto de ficar parada e nem consigo trabalhar apenas aqui no Jornal da Cidade. Quero viver a notícia 24 horas por dia. E daí veio a idéia de fazer um blog, um espaço onde posso divulgar notícias, inclusive aos sábados e domingos. Ele me traz dinheiro? Nem um centavo! Eu até pago para mantê-lo, mas é uma coisa que me dá prazer. Outro ponto é que o blog me obriga a estar por dentro de outros fatos. Não gosto de classificá-lo como sendo de política porque também publico materiais de outros assuntos.
Contexto – São poucos os comentários nas matérias presentes em seu blog. Você se sente desestimulada?
Kátia Santana - Absolutamente não. Na verdade, em minha casa eu tenho o sistema que verifica o número de acessos e sei que ele recebe visitas. Eu também recebo uma certa quantidade de e-mails. As pessoas sugerem pautas, denúncias, mandam até recados para os políticos. Quanto ao que o povo pensa e o porquê deles não comentarem publicamente, eu confesso que não sei a razão. Esse deve ser o perfil de todo brasileiro cuidadoso. É até bom que você publique isso, vai que alguém entra em contato comigo e me diz a resposta (risos).
Contexto – “Ecos da política – uma retrospectiva história de 1982 a 2001” foi um marco importante de sua carreira. O que ele representou para você na época em que foi escrito?
Kátia Santana - O livro representou minha inquietação e o fato de eu ter que ficar calada em certos momentos: ver as coisas e não poder publicá-las. Foi como uma espécie de válvula de escape, onde eu pude contar um pouquinho mais sobre aquilo que eu sabia – os bastidores. Sinceramente, eu nem considero a obra como um livro, mas sim uma grande reportagem, por meio da qual pude ouvir mais fontes, histórias, etc. Passei dois anos construindo o livro no maior sigilo do mundo, justamente para evitar as interferências. A obra também foi um misto de ousadia e coragem. Eu conto alguns segredos como o “acordão” de 1998 entre Jackson Barreto e a família Franco: desde a Champs-Élysées, em Paris até as reuniões na fazenda Caminho das Pedras, em Maruim. Conto também como se deu a entrada de Zé Dutra em Sergipe etc.
Contexto - Você foi acusada de cometer alguns erros em sua obra. Eles aconteceram?
Kátia Santana - Recebi muitas críticas, mas muitos elogios também. Adoro críticas construtivas porque elas me ajudam a crescer É verdade que eu errei. Foram erros de datas, por exemplo. O livro passou por várias e várias revisões e nessa fase ninguém os descobriu. Mas eu tenho clareza de tudo que está escrito lá. As fitas com os depoimentos e entrevistas estão guardadas para qualquer eventualidade.
Contexto – Sua carreira não foi prejudicada?
Kátia Santana – Pelo contrário. Ganhei mais visibilidade e a coisa da ousadia ficou muito patente. Confesso que no início tive um pouco de medo, mas esse sentimento não me fez mudar uma vírgula do que já tinha escrito. Dois dias depois da publicação do livro, o antigo dono do Jornal da Cidade e membro de uma das famílias citadas na obra, Antônio Carlos Franco, ligou para mim e me deu os parabéns.
Contexto – Quais conselhos você daria para quem quer trabalhar com jornalismo político?
Kátia Santana - Ter personalidade. E outra coisa mais importante ainda é manter uma distância com o entrevistado. Como? Negando tomar whisky na casa dos políticos ou comer churrasquinho com eles naquele sábado à tarde. Essa distância, não tenha dúvida, é essencial para que o jornalista sério não sofra mais interferências, além do normal, em seu trabalho.
Por Allan Nascimento
Blog Café com Política
Kátia Santana – Eu entrei na área de política por acaso. Meu primeiro emprego como jornalista foi na editoria Geral do Diário de Aracaju, veículo que atualmente não existe mais. Sempre fui muito rebelde, muito ousada, havia problemas de não pagamento e por isso resolvi fazer greve. Acabei saindo de lá. Nesse período eu tinha feito uma entrevista com o então presidente da Câmara Legislativa, Sérgio Góis, ele gostou e me convidou para trabalhar como assessora lá do órgão. Foi quando o ex-diretor do Jornal da Cidade, José Araujo Santana, me chamou para trabalhar na área de política e eu topei o desafio. Fiquei por um tempo como editora, mas nem gostei muito: há muita cobrança, visto que a editoria de política é como se fosse a “menina dos olhos” de todo dono de jornal, mesmo se ele não for político. Enfim, me identifico muito com a área. É bom frisar, eu gosto de política e não de político.
Contexto - E como é fazer jornalismo político em Sergipe? Quais as dificuldades?
Kátia Santana - Eu não diria apenas em Sergipe, mas em qualquer parte deste país a grande dificuldade é a interferência. Infelizmente, manda quem tem dinheiro. Se você fere o brilho de quem quer que seja que tenha grana, certamente esse cidadão vai ligar para o dono do jornal e dizer: “olhe, ou você muda o tom de suas matérias ou não vou mais anunciar no seu jornal”. Outra coisa é quando o dono do jornal tem vários amigos políticos. Aí é o inferno, pois você tem que fazer a lista de amigos e inimigos do seu patrão. Essa coisa de liberdade de imprensa é falácia pura, pois ela vai até o dia em que o dono do jornal ache que ela valha a pena
Contexto – De onde partiu a idéia de criar um blog?
Kátia Santana - Eu sou muito inquieta, não gosto de ficar parada e nem consigo trabalhar apenas aqui no Jornal da Cidade. Quero viver a notícia 24 horas por dia. E daí veio a idéia de fazer um blog, um espaço onde posso divulgar notícias, inclusive aos sábados e domingos. Ele me traz dinheiro? Nem um centavo! Eu até pago para mantê-lo, mas é uma coisa que me dá prazer. Outro ponto é que o blog me obriga a estar por dentro de outros fatos. Não gosto de classificá-lo como sendo de política porque também publico materiais de outros assuntos.
Contexto – São poucos os comentários nas matérias presentes em seu blog. Você se sente desestimulada?
Kátia Santana - Absolutamente não. Na verdade, em minha casa eu tenho o sistema que verifica o número de acessos e sei que ele recebe visitas. Eu também recebo uma certa quantidade de e-mails. As pessoas sugerem pautas, denúncias, mandam até recados para os políticos. Quanto ao que o povo pensa e o porquê deles não comentarem publicamente, eu confesso que não sei a razão. Esse deve ser o perfil de todo brasileiro cuidadoso. É até bom que você publique isso, vai que alguém entra em contato comigo e me diz a resposta (risos).
Contexto – “Ecos da política – uma retrospectiva história de 1982 a 2001” foi um marco importante de sua carreira. O que ele representou para você na época em que foi escrito?
Kátia Santana - O livro representou minha inquietação e o fato de eu ter que ficar calada em certos momentos: ver as coisas e não poder publicá-las. Foi como uma espécie de válvula de escape, onde eu pude contar um pouquinho mais sobre aquilo que eu sabia – os bastidores. Sinceramente, eu nem considero a obra como um livro, mas sim uma grande reportagem, por meio da qual pude ouvir mais fontes, histórias, etc. Passei dois anos construindo o livro no maior sigilo do mundo, justamente para evitar as interferências. A obra também foi um misto de ousadia e coragem. Eu conto alguns segredos como o “acordão” de 1998 entre Jackson Barreto e a família Franco: desde a Champs-Élysées, em Paris até as reuniões na fazenda Caminho das Pedras, em Maruim. Conto também como se deu a entrada de Zé Dutra em Sergipe etc.
Contexto - Você foi acusada de cometer alguns erros em sua obra. Eles aconteceram?
Kátia Santana - Recebi muitas críticas, mas muitos elogios também. Adoro críticas construtivas porque elas me ajudam a crescer É verdade que eu errei. Foram erros de datas, por exemplo. O livro passou por várias e várias revisões e nessa fase ninguém os descobriu. Mas eu tenho clareza de tudo que está escrito lá. As fitas com os depoimentos e entrevistas estão guardadas para qualquer eventualidade.
Contexto – Sua carreira não foi prejudicada?
Kátia Santana – Pelo contrário. Ganhei mais visibilidade e a coisa da ousadia ficou muito patente. Confesso que no início tive um pouco de medo, mas esse sentimento não me fez mudar uma vírgula do que já tinha escrito. Dois dias depois da publicação do livro, o antigo dono do Jornal da Cidade e membro de uma das famílias citadas na obra, Antônio Carlos Franco, ligou para mim e me deu os parabéns.
Contexto – Quais conselhos você daria para quem quer trabalhar com jornalismo político?
Kátia Santana - Ter personalidade. E outra coisa mais importante ainda é manter uma distância com o entrevistado. Como? Negando tomar whisky na casa dos políticos ou comer churrasquinho com eles naquele sábado à tarde. Essa distância, não tenha dúvida, é essencial para que o jornalista sério não sofra mais interferências, além do normal, em seu trabalho.
Por Allan Nascimento
Blog Café com Política
Nenhum comentário:
Postar um comentário