25 dezembro, 2007

Aeroporto de Aracaju garante ‘boa viagem’ nesse fim de ano

Nas chamadas altas estações, o movimento nos aeroportos cresce em todo o Brasil. Em Aracaju não é diferente, os meses de julho e dezembro são os de maior fluxo de turistas. Muitas pessoas escolhem Sergipe como destino para passar as festas de fim de ano seguidas do período de férias. Filas imensas, vôos muito atrasados ou cancelados felizmente são uma realidade distante do aeroporto da capital.

O grande fluxo no aeroporto de Aracaju se dá também pela saída de pessoas do estado. “De cada dez bilhetes emitidos nos últimos meses pela agência, no mínimo cinco foram para embarque em dezembro” informa a agente de viagens da Visão Turismo, Aline Mangueira. Rio de Janeiro e São Paulo são os principais destinos, acrescenta Aline.

Nos meses de menor fluxo no aeroporto de Aracaju, a média de passageiros, incluindo embarque e desembarque, corresponde a 55.000 pessoas por mês – dados até novembro deste ano. Já nos épocas considerados de pico – os meses de janeiro e julho - há um aumento de 20% no número de passageiros. Informou o assessor de imprensa da Infraero, Keldo Gabriel Campos.

O caos aéreo não afetou a venda de passagens em Sergipe. Na Visão Turismo, por exemplo, houve um aumento de vendas de 50% em relação ao ano passado. “Mesmo com os transtornos causados pela crise, o avião continua sendo o meio de transporte mais rápido e seguro para viajar. Os passageiros não estão dispostos a passar horas para chegar aos seus destinos”, explica a agente de viagens.

A crise aérea em Aracaju se deu de forma menos agressiva. De acordo com o Keldo Gabriel, o aeroporto sofreu as conseqüências dos problemas ocorridos nos terminais aeroportuários de grande porte como Brasília e São Paulo. Apesar do reflexo da crise, o aeroporto da capital sergipana opera tranqüilamente com aumento no número de passageiros e, segundo a Infraero, está preparado para receber até mais. Em relação aos atrasos provocados pela crise, o assessor de imprensa disse que a duração foi em média de 40 minutos e não provocaram grandes transtornos. Não houve cancelamentos de vôos.

Para evitar a concentração de passageiros e os problemas gerados pelo grande fluxo, o ministro da defesa, Nelson Jobim, lançou no dia 04 de dezembro um pacote de medidas para as companhias aéreas. Uma das propostas obriga as empresas a ressarcir passageiros vítimas de atrasos, com a devolução de parte do preço pago pelo bilhete. Esse reembolso varia de acordo com o tempo de espera sofrido pelo usuário. Sobre o pacote de medidas, Keldo Gabriel diz que a Infraero acata a decisão. Segundo ele, todas as instituições que trabalham com aviação estão mobilizadas para dar maior conforto aos usuários. A expectativa é que o pacote entre em vigor no início de 2008.

O terminal do aeroporto de Aracaju opera com um fluxo de 700 mil passageiros por ano, sendo sua capacidade máxima de 1 milhão. A estrutura existente suporta com certa folga a demanda. Contudo, o único aeroporto do estado apresenta problemas no pátio de manobras e por isso está atendendo no seu limite. Mas, segundo Kelson, não há motivo de preocupação, pois já existem projetos de ampliação para o local.

Por Tarcila Olanda

24 dezembro, 2007

Espírito natalino embala campanhas solidárias

Natal vem chegando e as campanhas solidárias em Sergipe estão nos preparativos finais para dar vida ao “Bom Velhinho”. No itinerário dele, estarão bairros de periferia da capital e do interior, com crianças aguardando ansiosas por um presente. A época, além de aquecer as vendas de fim de ano, também é de esperança para cada uma dessas crianças.

Em Neópolis, no interior do estado, todos os anos a Escola Estadual Sagrada Família faz doações de roupas e alimentos para crianças carentes. “É um trabalho importante e me orgulho muito de fazer parte”. Disse a professora Gilene Sales dos Santos, uma das participantes da campanha. As doações começam na própria escola, nos últimos dias letivos.

O espírito natalino contagia a todos. Na capital, Aracaju, uma das campanhas de maior sucesso é a chamada “Papai Noel dos Correios”. O projeto surgiu há 13 anos em todas as diretorias regionais da Empresa de Correios e Telegráfos (ECT). A proposta é responder a todas as cartas endereçadas ao “Papai Noel”, disponibilizando-as para quem desejar adotar uma delas. As histórias contadas pelas crianças são variadas e criativas.

Quase 3 mil cartas chegaram aos Correios de Sergipe até o último dia da campanha, 21 de dezembro. Mais de 1.500 presentes, incluindo televisores e bicicletas haviam sido entregues à empresa. A funcionária pública Ana Carla foi uma das centenas de pessoas que contribuíram. “A história que mais me comoveu foi a de uma menina chamada Mayara. Ela tinha 11 anos e nunca teve uma boneca”, disse ela ao entregar na agência central o presente da menina Mayara.

Pelo menos 15 funcionários dos Correios trabalham como voluntários na central da empresa, em Aracaju. Rita de Cássia Lima e Aline Santos saem do expediente direto para a recepção da secretaria, embrulhar os presentes que chegam. Alguns desses voluntários começaram a trabalhar há três meses.

O Assessor de Comunicação da empresa, Agnaldo Batista, diz que o projeto é importante porque estimula nas pessoas a solidariedade. “A importância também está no fato de que as crianças exercitam a escrita, ao fazer suas próprias cartas”, afirma Aguinaldo.

Pena que o garoto Iury, de 10 anos, não pôde fazer a sua, pois ainda não sabe ler nem escrever. A caligrafia perfeita e sem erros ortográficos era de sua mãe. Como muitas outras crianças, o seu presente de Natal era uma bicicleta. Seu pedido é apenas um entre as centenas de cartas não adotadas. O Papai Noel terá até o dia 25 de dezembro para realizar esse sonho.

Por Getúlio Cajé

23 dezembro, 2007

Boas notas nas redações da UFS

No dia 05 de dezembro, cerca de 21 mil candidatos concluíram, com a prova de redação, o Processo Seletivo para ingresso na Universidade Federal de Sergipe no ano letivo 2008. No dia 12 a universidade divulgou a lista dos pré-classificados e há duas semanas, sob a coordenação do Prof. Dr. Antônio Ponciano Bezerra, uma equipe de professores de língua portuguesa está fazendo a correção das redações. Segundo Ponciano, que é também pró-reitor de graduação, caso não haja imprevistos, o trabalho estará concluído até o próximo dia 26, quando então será divulgado o resultado final do vestibular.

A prova de redação da UFS, ao longo dos anos, tem passado por várias transformações: já foi peso 4, 5; de caráter eliminatório. Até o final da década de 90, as redações de todos os inscritos no vestibular eram corrigidas. Hoje, ela é apenas parte integrante da prova de português, a quarta parte; possui caráter classificatório e somente os candidatos pré-classificados, na proporção de dois para uma vaga em cada curso, têm seus textos corrigidos. Esse ano, serão corrigidas 8140 redações, já que a UFS oferece 4070 vagas.

“Antes nós corrigíamos as redações de todos os inscritos, às vezes eram textos de candidatos que haviam tirado nota baixíssima na sua prova de origem; por exemplo, estava fazendo vestibular para ciências biológicas e tirava dois na prova de biologia, que dizer, era um candidato que não tinha condição alguma de ser aprovado, mesmo assim se corrigia sua redação. A pré-classificação veio acelerar o processo de correção”, afirma o professor Ponciano.

Três são os critérios avaliados na redação da UFS: coerência (3 pontos), coesão (3 pontos) e expressão ( 4 pontos). A novidade deste ano é que cada texto passa por dois grupos de corretores, caso haja diferença significativa entre as notas dos dois grupos, o coordenador orienta uma terceira correção. O objetivo é garantir uma nota justa.

“Tem muito texto bom, muita nota alta. Não há necessidade de corrigir mais que duas redações para uma vaga, dificilmente os alunos que estão mais bem posicionados perdem sua vaga”, informa Antônio Ponciano.

Quando se fala em redação geralmente se pergunta: como é que está o nível, há muitos “erros”, e as famosas marcas da oralidade nos textos são problemáticas? Para o professor Ponciano não: “inserir elementos da linguagem popular numa redação de vestibular não chega a ser um problema, mesmo na literatura do século XIX, quando era, digamos, ‘proibido’ o uso da linguagem popular os autores deixavam escapar alguns regionalismos; portanto isso não é uma excrescência, sobretudo em se tratando de uma juventude a quem pela primeira vez está sendo pedida a produção de um texto formal como instrumento de avaliação. Essas marcas não são vistas como erro, o fato de o candidato inserir elementos da oralidade em seu texto não o desqualifica, não significa que ele vá perder ponto em coesão ou em coerência, se o uso for excessivo, talvez ele perca alguma coisa em expressão. Mas os nossos corretores estão preparados para fazer uma avaliação contextual, considerando, inclusive, a faixa etária da maioria dos candidatos, para nós é importante que ele compreenda que está produzindo um texto formal, dissertativo e que não fuja ao tema proposto; não se espera encontrar nada camoniano.”

De maneira geral, essa é a ótica que impera nas correções de redação dos vestibulares das grandes universidades brasileiras, cada uma com suas particularidades. A UFS propõe a produção de texto dissertativo, mas há aquelas que pedem a produção de outros tipos de texto, como o narrativo, descritivo ou poético. A posição das instituições são semelhantes quanto à correção. A patrulha purista de outrora cedeu lugar ao bom senso, ou seja, o mais importante é verificar se o candidato compreende a proposta de redação, se tem idéias e as desenvolve. Os pequenos erros lingüísticos têm um peso menor agora. Por isso, a opção de propor temas abrangentes - o da UFS desse ano foi “os problemas do mundo moderno” -, na esperança de que qualquer aluno que tenha concluído o ensino médio possa escrever sobre o assunto.

Por Luciene Oliveira

21 dezembro, 2007

Estudantes discutem produção acadêmica

Periodicamente, estudantes da Universidade Federal de Sergipe (UFS) saem de seus laboratórios e salas de aula para compartilhar resultados e experiências. Essa semana, a universidade se transformou em um palco de discussões: através de palestras, oficinas e minicursos, alunos discutiram perspectivas para a graduação na UFS e os desafios no ensino, pesquisa e extensão.

A II Semana de Estudos da Graduação (Segrad) aconteceu entre os dias 17 e 20 de dezembro, reunindo cerca de 310 inscritos. Para os minicursos, as inscrições foram realizadas à parte e 180 pessoas se matricularam. A coordenadora da Segrad, Maria Inêz Oliveira Araújo, disse que o número de pessoas presentes é superior ao ano passado, mas que ainda não está contente. “Falta mais divulgação e integração entre os departamentos. Só assim conseguiremos mobilizar toda a comunidade acadêmica”, diz.

A estudante do 4° período de Biologia, Márcia Leite, diz que, além de levar à comunidade universitária o que está sendo produzido na instituição, o evento promove o nosso desenvolvimento profissional. Já Karolina Andrade, que cursa o 2° período de Geologia, diz que estava apenas interessada em participar dos minicursos. “Eu não preocupo em saber o que outros alunos estão produzindo, a não ser que seja do meu interesse pessoal”, confessa.

Avanços

Em relação à primeira edição do evento, que aconteceu em novembro do ano passado, várias mudanças foram feitas. Dessa vez, foram discutidos apenas assuntos relacionados à graduação, enquanto no ano passado o tema dos trabalhos era livre. Segundo Maria Inêz, além de a UFS não estar preparada para realizar um evento tão amplo, a centralização dos debates em um único tema aprofunda a discussão.

Outra mudança foi a redução do número de palestras e o aumento das sessões de comunicações orais, com um total de 99 apresentações. Nessa edição, dez trabalhos foram rejeitados pela comissão científica. A coordenadora diz que a banca julgadora foi bem criteriosa e que apenas os trabalhos “sem pé nem cabeça” não foram aceitos. “Apesar do visível bom desempenho, ainda existe uma certa limitação na escrita acadêmica dos estudantes. É um ponto que ainda temos que discutir e melhorar”, disse Maria Inêz.

Outras iniciativas

Os alunos da UFS ainda contam anualmente com outras oportunidades para apresentar a sua produção acadêmica à comunidade universitária. Entre os dias 27 e 30 de novembro aconteceu a IV Semana de Extensão Popular, coordenado pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex), em que os estudantes tiveram a chance de mostrar trabalhos feitos junto à população, além de promover uma maior integração entre a universidade e a comunidade.

Voltados para a pesquisa, também acontecem o Encontro de Iniciação Científica e o Encontro de Pós-Graduação. Os eventos coordenados pela Pró-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa (Posgrap) aconteceram esse ano simultaneamente entre os dias 16 e 19 de outubro, exibindo trabalhos de pesquisa realizados na universidade. O Encontro de Iniciação Científica promove também o Prêmio Destaque do Ano, que contempla trabalhos de pesquisa realizados pelos estudantes da UFS.

Com uma proposta científico-literária, o Caderno do Estudante é lançado pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proest) da UFS, reunindo artigos científicos, poesias, contos e crônicas produzidas pelos alunos. O Caderno do Estudante 2006 (a edição mais recente) foi lançada no dia 3 de outubro desse ano e, segundo o coordenador de Promoções Culturais e Esportivas, José Marcos Monteiro, foram distribuídos 600 exemplares na UFS, em outras universidades brasileiras e também em universidades estrangeiras.

Por Fernando Pires
Foto: Fernando Pires

18 dezembro, 2007

Parabéns aos nossos ‘eternos turistas’


Comemora-se hoje, 18 de dezembro, o Dia Internacional do Migrante. Apesar de existirem níveis diferenciados de migrações, essa data – estabelecida a 4 de dezembro de 2000 pela Organização das Nações Unidas – tem por objetivo maior homenagear aqueles que deixaram seu país de origem para viver em outro, imersos em uma cultura às vezes bastante diferente da sua.

Não foi o que aconteceu com o português José Camilo Carvalhal, que há 38 anos vive no Brasil. “Nunca me senti estrangeiro aqui”, afirma, salientando a proximidade cultural entre os dois países e elogiando a receptividade do brasileiro. Camilo, que veio para Sergipe como representante de uma empresa de autopeças, logo depois adquiriu sua própria loja no ramo e hoje é um dos quase 200 portugueses residentes no estado, segundo dados fornecidos por Edvaldo Napoleão, agente federal responsável pelo setor de imigração. De acordo com Napoleão, os Estados Unidos estão logo após Portugal em quantidade de imigrantes em Sergipe, com uma média de 150. Em seguida vêm os italianos e os argentinos, com aproximadamente 100 imigrantes cada.

Vistos

Para que um estrangeiro fique no Brasil ele deve solicitar o visto temporário ou o visto permanente. O primeiro, mais utilizado como um ‘visto de trabalho’, é geralmente concedido àqueles que desempenhem funções específicas e escassas no lugar que este deseje ir, e pode ter duração de até 5 anos. Já o segundo, requerido pelos que buscam fixar residência no país, é opção de muitos investidores, pessoas interessadas em montar aqui estabelecimentos de grande porte, como hotéis, por exemplo. A documentação de permanência também é exigida para os que escolhem viver em território brasileiro após vínculo matrimonial.

É por causa do casamento que a maioria dos estrangeiros permanece em Sergipe. Foi assim com o argentino Fabian Majado, que a passeio em Salvador conheceu uma sergipana, com quem se casou logo após. Hoje, no segundo matrimônio e sócio-proprietário de uma escola de idiomas, Fabian não pensa em voltar a morar na Argentina e explica: “Ingressar no mercado de trabalho sempre foi difícil em Buenos Aires. Agora, aos 44 anos, é impossível para mim. Buenos Aires só nas férias”.

Mercado de trabalho

É difícil encontrar imigrantes desempregados em Sergipe. Isso não é ocasionado pela farta necessidade por mão-de-obra, ainda que pouco especializada, como ocorre nos Estados Unidos. O motivo em geral está justamente no elevado nível de instrução do profissional estrangeiro que aqui reside. É por isso que estes geralmente ocupam bons cargos em empresas renomadas, como é o caso da Petrobrás.

Além desses há ainda aqueles que se dedicam às universidades, atuando como professores e pesquisadores. É também bastante recorrente, principalmente entre os latinos, aqueles que se empregam em alguma escola ou curso de idiomas para trabalhar com sua língua-mãe. Esse é o caso de Milagros Elizabet Fernandez, dominicana formada em economia, mas que abandonou sua área de graduação quando saiu de Santo Domingo. “Lá eu trabalhava em um banco. Com a mudança para cá o mais difícil foi decidir em que trabalhar. Desde que cheguei aqui ensino espanhol”, diz a professora.

Por Christiane Matos
Foto: Christiane Matos

Cartão "mais" gera polêmica entre estudantes

O sistema de bilhetagem eletrônica do transporte urbano da Grande Aracaju mal foi implementado e já causa polêmica. Com a finalidade de combater o comércio paralelo de tickets, promover mais agilidade e segurança, o modelo causa insatisfação aos usuários do transporte coletivo. Grandes filas nas catracas, quedas constantes de sistema na hora da recarga e cobrança indevida do valor da tarifa são algumas das queixas. José Augusto Machado, coordenador de passe escolar da SMTT, entende que tais reclamações ocorrem devido à novidade do sistema e afirma que as devidas providências já estão sendo tomadas. "Toda mudança tem uma dificuldade natural. Estamos nos adequando ao processo com o uso", argumenta.

Reclamações

Segundo alguns estudantes, primeiros usuários a adquirir o cartão eletrônico, as filas de acesso às "borboletas" dos veículos e terminais de integração aumentaram consideravelmente depois da chegada da nova tecnologia. "De fato, esse acesso ficou muito mais lento. Isso tem causado muitos problemas quando, por exemplo, o ônibus que vamos pegar já está passando pelo terminal. Agora não dá mais tempo de pegá-lo", Afirma o estudante de Direito Hércules Felipe, que como outro tantos passa diariamente pelo terminal do Campus.

O longo processo de aproximar a carteirinha à catraca eletrônica; esperar ser informado o valor do saldo; aguardar liberação do cobrador até que seja permitida a passagem é que causa esse atraso. Como explica Augusto Machado, o processo de transmissão dos dados do cartão atualmente é feito pelas operadoras TIM, Claro e Oi. Já que essas experiências não geraram a velocidade e regularidade desejada, planeja-se operar tais dados com a Velox. Ainda segundo ele, esse novo convênio trará mais agilidade também ao ato de recarga dos cartões e minimizará também o problema das "quedas" de sistema.

Outro ponto que incomoda os usuários da meia-passagem é o fato de os créditos serem contabilizados pelo valor em dinheiro, e não por unidades de bilhetes. Há casos de pessoas não poderem usar a quantidade exata de passagens compradas por faltar dinheiro na hora de usar a última unidade. Machado justifica que o sistema comprado da Pró-Data System's não comporta três casas decimais e a metade da tarifa atualmente custa R$0,825. Ao serem descontados, os valores são arredondados. "Quando você compra 20 passes por R$16,50, por exemplo, ao chegar às 19 utilizações, talvez a catraca não aceite. Mas quando você carrega novamente, o erro é corrigido. O usuário não perde!", enfatiza Augusto Machado.

O coordenador de passe escolar da SMTT ainda afirma que a bilhetagem eletrônica serviu para aumentar a fiscalização sobre o uso da meia-passagem. Além de permitir que o passageiro do transporte coletivo bloqueie os créditos de sua carteirinha em caso de roubo ou perda, o novo sistema também ajuda a combater o comércio paralelo de passagens. Neste ano já foram apreendidas 280 carteirinhas de passe escolar por uso indevido.

A possibilidade de coibir a comercialização paralela é um dos principais motivos da implementação da bilhetagem eletrônica, segundo o Movimento Passe Livre (MPL). É o que afirma Caio César, estudante sergipano membro do movimento. Para o grupo, formado em 2005 no Fórum Social Mundial realizado em Florianópolis e distribuído em coletivos espalhados por várias cidades do Brasil, o novo modelo veio promover o que é chamado de “antecipação de receita”. O cartão permite que o dinheiro seja usado exclusivamente para transporte, evitando, assim, extravio de tickets no processo. Então, consoante ao movimento, essa seria uma medida na qual se paga antecipadamente pelo serviço, sem possibilidades de reverter o valor desembolsado a outros fins, maximizando os lucros das empresas. O MPL problematiza também o modelo, de cobrança baseada em dinheiro, em situação de aumento de tarifa. Os créditos comprados por um preço anteriormente que ficaram acumulados na carteirinha seriam descontados levando em consideração o valor novo. "Como será feito o controle sobre as pessoas que recarregaram antes e depois do aumento da tarifa?" Questiona Cáio César.

O sistema de bilhetagem eletrônica deverá estar totalmente implantado em Aracaju até o final de 2008 com todos os sete cartões (Funcional, Escolar, Gratuidade, Vale-transporte, Sênior, Especial e Cidadania). O cartão Especial, concedido a pessoas com deficiência motora, mental, auditiva e visual, tem previsão para ser implementado até o fim de dezembro e o Vale-transporte, concedido pelo empregador, deve ser distribuído a partir de janeiro do próximo ano.

Comércio Paralelo

No dia 07 de dezembro, um cambista portando oito cartões de meia-passagem foi pego em flagrante ao tentar efetuar recarga dos mesmos na sede do SETRANSP. Conforme notícia veiculada no site do sindicato das empresas, "ele alugava os cartões, colocava créditos e repassava a terceiros pela quantia de R$ 70 mensais". O setransp também informa que "uma das infrações mais cometidas é o uso de um mesmo cartão, com o mesmo cobrador, seguidas vezes em um único dia".



Por Zeca Oliveira
Foto e ilustração: Zeca Oliveira

Saiba mais:

http://www.setransp-aju.com.br/mais_aracaju.php

http://catracassu.blogspot.com/2007/11/bilhetagem-serve-quem_18.html

16 dezembro, 2007

Pesquisa revela deficiências na política de acessibilidade da UFS

Durante dois anos, os estudantes Miriam Carla (Letras) e Horimo Medeiros (Ciências Sociais) acompanharam de perto as dificuldades sofridas por Gil: primeira aluna da Universidade Federal de Sergipe com necessidades especiais. A pesquisa, intitulada “Acessibilidade na UFS: um estudo de caso”, foi apresentada no dia 29 de novembro, na Semana de Acessibilidade da UFS.

De acordo com o trabalho, a universidade não estaria preparada para receber estudantes que têm deficiência visual, como Gil. “A principal conclusão da nossa pesquisa é de que a política de acessibilidade da UFS é na base do improviso. Desde que Gil entrou na UFS, em 2004, as necessidades dela são atendidas de forma improvisada mesmo, sem planejamento algum. Quando aparece um problema, ‘um tapa buraco’ é a primeira solução que surge”, afirmou Miriam.

A estudante também denuncia, em sua pesquisa, o comodismo que, segundo ela, foi estimulado dentro da administração da universidade pela existência de bolsistas que acompanhavam a estudante com deficiência visual. “A UFS passou a conceder a Gil uma bolsa de R$ 180, para que ela pudesse arcar com materiais necessários, como fitas e um gravador, que a ajuda a acompanhar as aulas. Um estudante também recebe o mesmo valor para guiá-la pela universidade. Eu fui uma dessas bolsistas, e posso dizer que não havia critério algum de escolha, além de não passarmos por treinamento. A própria Gil é quem indica seu guia. E, sem capacitação, fica difícil, às vezes, atender uma ou outra necessidade que possa surgir. Já ficamos de mãos atadas, sem saber o que fazer, em determinadas ocasiões”, lamentou Miriam.

O estudante Horimo Medeiros, que efetivou a pesquisa junto com Miriam, fez uma abordagem sociológica sobre o caso particular de Gil. “Segundo Portaria do Ministério da Educação (MEC), as universidades são obrigadas a se inserirem nessa política de acessibilidade. Na prática, esse direito não é realmente efetivado, pois o debate sobre inclusão é geralmente limitado aos estudantes carentes, e raramente engloba os portadores de necessidades especiais”, afirmou Horimo.

Horimo também denuncia a situação da UFS como reflexo de um descaso geral com a situação. “Parece que o Estado vê esse tipo de assistência como favor. Apenas participa de parcerias e ‘morre’ por isso mesmo. Mas o correto é que ele se coloque como responsável pela elaboração e efetivação de políticas públicas de acessibilidade”, explicou o estudante de Ciências Sociais.

Miriam e Horimo participam do Grupo de Trabalho (GT) “Por uma universidade sem deficiências”, junto com Josimeire Batista, aluna do curso de Pedagogia. Na Semana de Acessibilidade, Josimeire problematizou as estruturas da Didática V, ainda em construção. “Alegamos à Prefeitura do Campus que não havia acessibilidade na planta estrutural da Didática V. As portas eram tão estreitas, que as cadeiras de roda não passavam. Avisamos ao prefeito que, na Semana de Acessibilidade, estaríamos passando com uma cadeira, e para nossa surpresa e alegria, eles haviam alargado a porta. Mas, no geral, a planta da empresa construtora só prevê a ampliação dos banheiros. Há um fosso quanto à acessibilidade, desrespeitando as normas da ABNT”, alega a estudante.

Outro projeto de construção que está sendo questionado pelo grupo é a revitalização do Complexo Desportivo da UFS. Este inclui a piscina, a sala de judô, o ginásio de esportes e a sala de dança do Departamento de Educação Física (DEF). “Estamos lutando para que a piscina tenha rampa para os cadeirantes e professores devidamente treinados para recebê-los”, adiantou Miriam. De acordo com Pedro Jorge, chefe do Departamento, essas já são as prioridades do projeto. “Os engenheiros da obra já estão cientes das atividades emergenciais, como a construção de passarelas, que vão do departamento administrativo até a piscina, e rampas, para ampliar o acesso. Além de banheiros apropriados, com estrutura de metal”, adiantou o professor.

O Grupo de Trabalho está elaborando um projeto para criação de um Núcleo de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais, na UFS. De acordo com Miriam, esse projeto já foi apresentado à universidade, na Semana de Acessibilidade. “Queremos implementar um núcleo que possa dar suporte estrutural e pedagógico a esses estudantes. Já encaminhamos o projeto ao professor Ponciano, Pró-Reitor de Graduação (Prograd). Ele disse que quer ajudar, mas precisa estudar melhor, porque ainda não tem noção de como proceder”.

Processo Seletivo Seriado

A UFS não reserva vagas do PSS para estudantes com necessidades especiais, ou seja, eles competem em condições de igualdade com todos os candidatos ao vestibular. De acordo com Miriam, isso é sintoma de uma instituição despreparada para abrigar esses alunos. “Quando Gil passou no vestibular, os professores sequer haviam sido informados de que receberiam uma estudante com necessidades especiais. Houve muitos constrangimentos, porque não havia preparo para lidar com as necessidades de Gil. Ás vezes, ela era argüida no birô enquanto o resto da turma fazia a prova escrita”, revelou Miriam.

O coordenador do processo de vestibular da UFS, professor Manoel Leite, alega que, para esses estudantes, há um tratamento diferenciado na hora do concurso. “Ao todo, recebemos 16 candidatos com necessidades especiais, e todos eles fizeram prova em uma das alas do Colégio de Aplicação (Codap), com um professor e dois fiscais para cada um. Todos os deficientes visuais tinham visão parcial, e, para eles, foi elaborado um cartão de respostas ampliado. Outro candidato que tinha problemas motores e não conseguia escrever nada, respondeu a prova em um computador reservado, com o acompanhamento de um professor”, explicou.

Quando à reserva de vagas para o vestibular, o professor foi enfático. “Sempre fui contra as cotas. Mas, diante das cotas que estão sendo criadas por aí, acho mais justo que sejam privilegiados os portadores de necessidades especiais”.

Por Priscila Viana

Mão na massa




Na Semana de Cultura Afro Brasileira da UFS, debater sobre inclusão dos negros na universidade não foi tudo: agora, é hora de fazer.




“Ser negro é ser violentado 24 horas por dia.” Não foi em uma circunstância fortuita ou para qualquer platéia que o professor Antônio Costa, do Departamento de Letras da UFS, soltou sua definição. A frase foi dita no auge dos debates da IV Semana de Cultura Afro Brasileira da Universidade Federal de Sergipe. Entre os dias 10 e 13 de dezembro, alunos e professores analisaram números, casos, termos polêmicos e, principalmente, formas de desenvolver políticas de afirmação e inclusão social das classes discriminadas e minoritárias – entre elas, a aplicação de um sistema de cotas para negros na UFS.

A frase dura do professor Costa, mais do que um testemunho, ecoou como um ponto de partida para os trabalhos que se seguiram: a questão já não era onde a discussão está, mas aonde se quer chegar. “A semana representa o momento em que paramos não só para pensar, mas para colocar a mão na massa e, até, apontar para algumas direções em relação a ações de afirmação e inclusão”, resume o professor Frank Marcon, coordenador do recém-instituído Programa de Ações Afirmativas – PAAF – e do Núcleo de Estudos Afro Brasileiros, responsável pelo evento.

Munido de números do questionário sócio-cultural do último vestibular da UFS, que apontou uma incidência de 12,45% de negros entre os aprovados, Marcon avalia que o processo de expansão da UFS, ainda que benéfico, está incompleto. “A expansão está sendo feita de forma horizontal, focando o lado numérico. Mas é preciso ver o acesso, a inclusão das populações que, por vários motivos, não conseguem ingressar na universidade”.

Modelos de inclusão

Foi exatamente para tentar entender melhor como se faz inclusão que foram trazidos, especialmente para a semana afro-brasileira, dois representantes de experiências que deram certo. A professora Clara Suassuna veio da Universidade Federal de Alagoas para explicar como, desde 2004, cerca de 1000 alunos foram incluídos na universidade alagoana. “A política de cotas, sozinha, não sustenta o programa de ações afirmativas. São necessárias várias medidas”, esclarece. As políticas de afirmação da UFAL, segundo Suassuna, vão desde o incentivo à pesquisa sobre cultura afro-brasileira até a formação de pesquisadores e instituição de disciplinas obrigatórias relacionadas à temática.

Já o professor Wilson Roberto Mattos, foi convidado para esclarecer como aconteceu uma das primeiras experiências de cotas universitárias para negros do Brasil: a da Universidade Estadual da Bahia – UNEB. Desde a implantação do sistema, em 2002, 8000 alunos ingressaram na universidade. Mas a reserva de 40% de vagas para afro-descendentes de escola pública não é tudo. “No programa de ações afirmativas de lá nós procuramos assegurar bom desempenho dos alunos, manter uma alta taxa de representatividade dos negros e baixo nível de evasão. Não adianta cobrar desempenho dos alunos se a instituição não oferece condições para tal”, explica.

Para a UFS, o professor Frank Marcon já antecipa: a criação de uma política de cotas para alunos negros vindos de escola pública está, sim, na pauta do PAAF. “Nosso primeiro foco é pensar em uma ação de acesso diferenciado já para o vestibular de 2008”, assegura. Mas essa não será a única medida proposta. Além da chamada “verticalização” do acesso, o programa prevê políticas de permanência e de produção de conhecimento, assim como os exemplos dados por Bahia e Alagoas. Até abril do ano que vem, entretanto, as medidas continuarão como hipóteses. Nesse período, mais dois eventos serão realizados. Eventos que, segundo Marcon, serão decisivos para a adoção ou não das ações afirmativas. “Serão mesas de trabalho. O que aprovarmos já será enviado ao Conselho Universitário, que por sua vez aprovará ou não”.

Questionamentos

Na platéia que acompanhou os debates da Semana, não havia unanimidade. Alguns se mostraram mais céticos em relação ao problema do negro na sociedade. O engenheiro e funcionário do Sindicato de Professores da UFS Valdir Pimentel ironiza o termo cotas – “por que raios não é com ‘q’ de quotas?” -, e, embora simpático ao sistema, acredita que a maioria negra não sente a discriminação como costuma ser descrita. “Discriminação é coisa pra negro intelectual. A maioria não tem cultura para se reconhecer como alguém no mundo. Se o negro se achasse tão discriminado, estava aqui hoje discutindo”, disse, apontando as cadeiras vazias no momento das primeiras palestras.

O aluno Bruno da Silva, do curso de História, tem uma teoria para essa apatia. “Penso que a sociedade aracajuana não olha com bons olhos para políticas afirmativas. Vivemos numa sociedade meritocrática”. Mas quem se habilitou a responder diretamente as provocações de Pimentel foi o professor Antônio Costa, que, esbaforido, não se conteve. “507 anos nos foram negados. Ouvimos durante séculos que não tínhamos nem alma nem espaço na sociedade. Ser negro, amigo, é ser violentado 24 horas por dia”.

Por Igor Matheus
Foto: Igor Matheus

13 dezembro, 2007

Sedentarismo nas Escolas Públicas

Esporte faz bem à saúde. A constatação é tão banal quanto dizer que toda a criança precisa se desenvolver fisicamente. Porém, o esporte na infância ainda é desvalorizado em Aracaju. Em virtude da emergência do assunto, os professores do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe (DEF-UFS) vêm construindo um amplo debate sobre o tema.

Entre os dias 10 e 12 de dezembro foi realizada a 5ª Semana de Educação Física. Com 300 inscritos, entre estudantes, profissionais e pesquisadores, o evento abordou a necessidade do esporte na educação básica. Entre as atividades, houve palestras no Ginásio de Esportes, apresentação de pôsteres e o lançamento do livro “Educação Física, Esporte e Sociedade: temas emergentes”, escrito por vários docentes do DEF.

Além disso, foi criado recentemente o curso de especialização em Educação Física Escolar na UFS, que é coordenado pelo professor Tarcísio Grunnenvaldt e está atualmente em sua primeira edição. O vice-coordenador do curso, Omar Schneider, diz que é importante habilitar profissionais devidamente preparados para lidar com as crianças e lutar pela construção de uma educação que vise também o bem-estar físico das crianças.

“Hoje, não existe educação física para as crianças nas escolas públicas”, alerta Schneider. Segundo Rosa Cristina Ettinger, membro da coordenação infantil da Secretaria Municipal de Educação de Aracaju, a educação física foi retirada da grade curricular básica e passou a ser executada como uma atividade complementar, planejada pelo professor. Vale lembrar que o Estatuto da Criança e do Adolescente obriga a comunidade e o poder público a assegurar o direito ao esporte.

Omar Schneider afirma que os pais também colocam a educação física em um plano secundário. Para o vendedor Paulo Hernandes, a educação física tem um papel muito importante na formação de qualquer aluno, mas a qualidade do ensino didático é preferencial. Ainda assim, Hernandes, que tem um filho de oito meses, não quer um futuro sedentário para a criança. “Quero muito que ele vá além dos estudos e tenha uma vida esportiva saudável. Por isso, acredito que, além de um ensino de qualidade, uma escola deve oferecer educação física”, completa.


Por Fernando Pires

Blog da Pós-Graduação em Educação Física Escolar (UFS)

Ilustração: Folder do evento EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA: O LUGAR DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL, disponível no site http://www.posescolar.blogspot.com/

O mercado negro de trabalhos acadêmicos

Concluir um curso universitário nem sempre é tarefa fácil. Principalmente quando se tem que correr contra o tempo “devorando” os livros para a produção da monografia. Um caminho trabalhoso para muitos alunos, mas facilmente contornado por tantos outros. Universitários sergipanos acham uma saída eticamente questionável, de eficiência comprometida e, além de tudo, criminosa.

O mercado das fraudes em trabalhos acadêmicos funciona sem grandes mistérios. Os interessados podem encontrar anúncios como “digitam-se trabalhos” nos classificados do jornal e, até mesmo, em termos mais explícitos nos murais informativos das faculdades. Existem ainda vários sites especializados na produção de simples artigos a dissertações de mestrado.

Nos meses que antecedem o final do período letivo, o fluxo da produção de monografias fraudulentas aumenta bastante. Segundo Ofélio, um dos fornecedores no mercado, a pressão nessa época justifica a grande demanda por trabalhos fraudados. Ressalta ainda que “o preço de uma monografia agora em dezembro pode custar até R$ 400, dependendo do prazo a ser cumprido. Trabalhamos e cobramos em cima do prazo estabelecido pelo cliente”.

Em Aracaju, negociações mais detalhadas de uma monografia acontecem geralmente na residência do fornecedor. Os próximos passos dependem da eficiência na elaboração do plágio, conforme exigência do cliente, que pede sigilo absoluto de sua identidade - cuidados nem sempre revertidos em sucesso na apresentação à banca examinadora da instituição de ensino. Se o “tiro sair pela culatra”, a banca sequer é convocada para apreciação.

Punição

A professora de Direito do Trabalho da Fase (Faculdade de Sergipe) e de Monografia da UFS (Universidade Federal de Sergipe), Dayse Coelho de Almeida, define o plágio como um "furto do pensamento alheio”. Diz também que a situação é preocupante, “primeiro, porque há a questão dos direitos autorais do pesquisador que desenvolveu o texto copiado e, segundo, porque a ciência não evolui com o plágio, trata-se de um retrocesso”.

Quem for pego em fraudes de trabalhos acadêmicos em geral obtém nota zero. Em casos de monografias forjadas, além da reprovação, o próprio aluno se reconhece incapaz de produzir conhecimento científico, após anos numa faculdade. A Professora Dayse diz ainda que “caso a repressão não seja suficiente, cabe à Universidade caçar diplomas já expedidos, indiciar os responsáveis administrativa e judicialmente, chamando-os à sua responsabilidade civil e criminal”.

De acordo com Liliana da Escóssia Melo, professora de Departamento de Psicologia e Coordenadora do Mestrado em Psicologia Social e Política da UFS, tem sido cada vez mais freqüente fraudes em trabalhos na universidade. Entretanto, levantamento feito no Departamento de Assuntos Acadêmicos da universidade (DAA), constatou que não há processos de plágio em tramitação envolvendo alunos. A maioria dos casos descobertos geralmente é resolvida em reuniões departamentais, sem repercussão legal.

O Procurador Federal da Assessoria Jurídica da UFS, Paulo Celso Rego Leó, assegura que a situação cabe apenas medidas administrativas, como a reprovação do aluno, ao se constatar a fraude. Para reincidentes, pode haver conseqüências mais graves como a expulsão. O Procurador diz ainda que processos judiciais devem partir do autor lesado por ter seu trabalho copiado indevidamente e não da universidade. “O plágio é um crime contra o direito autoral. Portanto, o maior prejudicado é que deve se manifestar judicialmente”, comenta.

No mercado de fraudes em trabalhos acadêmicos, tanto quem compra como quem vende pode ser condenado em até cinco anos de reclusão por falsidade ideológica.

Prevenção

Que a tecnologia facilita o plágio de trabalhos acadêmicos, não há a menor dúvida. Controlar essa prática ficou tão complexo que nem sempre os sites de busca conseguem localizar exatamente a fonte copiada. Pensando nisso, hoje são desenvolvidos vários softwares aliados dos professores na correção de trabalhos.

O Ephorus é o software líder no mercado de anti-plágio. Inicialmente comercializado na Europa, mas já presente em algumas instituições brasileiras. Através dele, não é necessário perder horas vasculhando a Internet para constatar o plágio. Os resultados são mais precisos, o que faz o aluno pensar duas vezes antes de copiar seu trabalho.

Para o pró-reitor de graduação da UFS, Antônio Ponciano Bezerra, essa ajuda da tecnologia é bem vinda, mas desconhece discussões na universidade sobre utilização de programas anti-plágio. Ainda de acordo com ele, um ensino de qualidade e um melhor suporte técnico das faculdades, são fundamentais no combate à prática. “Prevenir o plágio é mais importante do que punir alunos despreparados para a pesquisa acadêmica”, afirma.

Por Getúlio Cajé

12 dezembro, 2007

Domingo é dia de Parque

As tardes de domingo não serão mais as mesmas após lançamento do projeto que oferece uma nova opção de lazer aos aracajuanos. Aconteceu no dia 25 de novembro, às 16 horas, a abertura oficial do projeto “Domingo no Parque”. O evento ocorreu no parque Augusto Franco, conhecido como “Parque da Sementeira” e contou com apresentações da Orquestra Sinfônica de Sergipe e da banda Cataluzes.

A Prefeitura de Aracaju através da Empresa de Serviços Urbanos (EMSURB) é responsável pela realização do “Domingo no Parque”. De acordo com o presidente do órgão, Silvio Santos, a iniciativa surgiu após a conclusão do projeto de revitalização do parque que visa oferecer um ambiente mais agradável aos freqüentadores. Melhorias na iluminação local, instalação de novos equipamentos esportivos e de lazer foram algumas das obras realizadas no espaço.

Atrair cada vez mais pessoas para aproveitar o novo ambiente passou a ser o objetivo dos órgãos responsáveis. Meta que tem sido alcaçada graças à promoção de apresentações culturais e alternativas de entretenimento. Mais que isso, segundo Silvio Santos, “a participação das pessoas superou as expectativas.”.

O público presente na primeira edição do “Domingo no Parque” aprovou o projeto e espera que ele atinja maiores proporções. “A iniciativa da prefeitura de Aracaju em dinamizar as visitas ao Parque da Sementeira é positiva, pois o espaço de lazer que durante anos foi pouco freqüentado agora volta a atrair os aracajuanos”, afirma a professora Priscilla da Silva Góis. “Quanto às atrações apresentadas, foram muito bem escolhidas”, acrescenta Priscilla.

Sobre a possibilidade do projeto ocorrer todos os domingos, o presidente da Empresa de Serviços Urbanos explicou que é pouco provável. Os custos envolvidos na realização do evento, além da necessidade de evitar possível concorrência com o calendário fixo de atividades que acontecem na cidade são fatores que dificultam essa hipótese.

Silvio Santos confirma a realização de outras edições do projeto. Segundo ele, a 2ª edição do ‘Domingo no Parque’ está prevista para acontecer até dia 22 de dezembro e provavelmente contará com a presença de um grupo de jazz.

Por Tarcila Olanda

11 dezembro, 2007

Cinema Sergipano ganha novas projeções

A produção audiovisual em Sergipe encontra-se em uma nova fase: a Prefeitura de Aracaju, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Esporte (Funcaju), criou o primeiro edital de incentivo à produção audiovisual. Esse edital, lançado em maio de 2007, encontra-se agora em processo de financiamento aos diretores. A verba aplicada no projeto, no valor de 15.000 reais é destinada para a produção de cinco curtas-metragens que serão exibidos na Aperipê TV e nos projetos culturais da Prefeitura de Aracaju, como o Circuito ‘Arte em Toda Parte’.

A diretora de curtas-metragens Deborah Fernandes, graduada em Rádio e TV pela UFS, foi uma das selecionadas pela Funcaju para produção de um curta-metragem. Segundo Deborah cujo curta se chamará ‘Sensacional’, as gravações das suas cenas começaram no dia 2 de dezembro. Deborah afirma que o Núcleo de Produção Digital ‘Orlando Vieira’ tem sido o grande impulsionador para esse crescimento da nova cena audiovisual. "Essa iniciativa de resgatar (a cena audiovisual) possibilita conhecer muita gente inteligente, com vontade de aprender, e que, anteriormente, não tinham oportunidade".

O Núcleo de Produção Digital ‘Orlando Vieira’ faz parte de um projeto criado pelo Ministério da Cultura que pretende criar e fortalecer uma cena audiovisual nos estados que não apresentassem tamanha solidez nesse âmbito. No total, são onze estados que atualmente participam desse projeto do Ministério da Cultura.


Entretanto, o Núcleo de Produção Digital vem apresentando dificuldades na sua trajetória como a burocracia estatal para a chegada dos equipamentos e a liberação de recursos. Dessa maneira, a primeira turma do curso de Formação e Capacitação em Audiovisual ainda não pode concluir o curso, pois os equipamentos de edição de imagem e de captação de imagem e áudio ainda não chegaram. Segundo Gabriela Caldas, diretora pedagógica do Núcleo, o curso se normalizará em janeiro de 2008.

Sobre o incentivo à produção audiovisual em Sergipe, Gabriela Caldas afirma que a Fundação Aperipê tem um convênio de divulgação dos trabalhos realizados pelo Núcleo de Produção Digital. Além da Fundação Aperipê, o edital da Funcaju mostrou-se de extrema importância, segundo Gabriela. “Não apenas o dinheiro que eles contemplam, mas os equipamentos do Núcleo estão disponíveis para estas produções. É uma chance que eu, como diretora de curtas-metragens, gostaria de ter tido. Os profissionais que estão sendo formados pelo Núcleo encontram-se plenamente capazes de trabalhar no mercado”, afirma.

Em 2008 o Núcleo de Produção Digital pretende iniciar novos cursos de capacitação, dentre eles, as oficinas de Direção de Arte, Cenografia, Produção, Assistente de Direção, Preparação de ator, Planos de Filmagem, Documentário, entre outros. Além de todos esses cursos, se dará início à segunda turma de Formação e Capacitação em Audiovisual, com o início do primeiro módulo de aulas. Dos 150 inscritos, 30 serão selecionados após uma entrevista, para a criação da segunda turma do curso de Capacitação em Audiovisual do Núcleo, que iniciará no dia 7 de janeiro.


Por Domingos Lessa
Foto: Edinah Mary

10 dezembro, 2007

Torneios de tênis movimentam orla de Atalaia

A platéia assiste atenta à partida e acompanha o trajeto da bola. O silêncio é total e a expectativa palpável. Os seguranças postos nas entradas estão ali para fazer valer as regras do jogo: nada de entra-e-sai nas arquibancadas. Entre um intervalo e outro ouve-se explosões de urros da torcida.

Até aqui, engana-se quem imaginou que a descrição se trata de uma partida de futebol. Na verdade, é uma partida de tênis. Mais precisamente, uma partida típica do Campeonato Brasileiro de Tênis Universitário em Aracaju e do Torneio dos Campeões da Copa Petrobrás.

Ambos estão ocorrendo paralelamente nas quadras da Federação Sergipana de Tênis, localizadas na praia de Atalaia, entre 04 e 08 de dezembro. O Campeonato Universitário, que acontece nas quadras de saibro – tipo de piso feito de areia e cal – é resultado de uma iniciativa da CBT (Confederação Brasileira de Tênis), da CBDU (Confederação Brasileira do Desporto Universitário) e da Koch Tavares, empresa organizadora de grandes eventos de tênis do país. Já o Torneio dos Campeões, que ocorre na quadra principal, tem o patrocínio da Petrobrás, TAM, Penn e Fila, além da própria Koch Tavares.

Universitários em ação

Estudantes vindos de várias partes do país inscreveram-se para participar do Campeonato Universitário. Os únicos pré-requisitos eram estar quites com o pagamento anual da Federação e comprovar a condição universitária. A idade não importa: um dos participantes competiu do alto de seus 65 anos contra um adolescente de 19.

Para a competição, confirmaram presença estudantes de Goiás, da Paraíba, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, São Paulo e Paraná. Os representantes sergipanos que tiveram destaque foram Marcel Oliveira e Gabriel Santana, respectivamente da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Tiradentes.

Além de participar como competidor, o estudante de educação física da UFS, Marcel Oliveira, também é árbitro do Torneio dos Campeões. Ele expõe uma realidade que muitos estudantes enfrentam nas universidades que colocam o tênis na grade curricular. “Se você quiser disputar bem esses jogos é preciso correr atrás e treinar em outros locais. Se depender só da universidade você não consegue jogar”.

O mesmo ocorre em escolas de ensino médio e fundamental, onde geralmente se inicia o gosto dos futuros esportistas. A prática do tênis acaba sendo preterida pela do vôlei, basquete e futebol de salão, e um dos motivos para isso é o seu alto custo. “O tênis não é um esporte barato, todo mundo sabe. Pra jogar futebol você precisa de uma bola e dois pares de chinelo pra fazer o gol. E o tênis não, você precisa ter a rede, raquete, uma bolinha que quique. Além disso, você não pode jogar em qualquer lugar”, explica Marcel.

Para o campeão e o vice-campeão do campeonato a organização dará como premiação um pacote completo de quatro dias, com alimentação, hospedagem e passagem aérea, para assistir aos jogos do Brasil Open 2008 na Costa do Sauípe, na Bahia, além de troféus.

Copa Petrobrás 2007 chega ao fim

Neste sábado chega ao fim a 4ª edição da Copa Petrobrás de Tênis, maior circuito Challenger da América Latina. Para fechar com chave de ouro, os vencedores das competições na Colômbia, no Brasil, Uruguai, Paraguai e na Argentina reúnem-se em Aracaju para a disputa final no Torneio dos Campeões. Esse campeonato contará com a participação de jogadores como o chileno Nicolas Massú, que ocupa a 78º posição no ranking de tênis, e do argentino Sergio Roitman, atualmente ocupando a posição 69º.

O circuito tem o intuito de atrair cada vez mais adeptos para o esporte. As Federações e as academias de tênis espalhadas pelo Brasil são as maiores incentivadoras do esporte, e constantemente realizam torneios. É o que confirma a estudante de direito da Unit, Tatiane Caroline de C. Oliveira, que assistiu aos jogos na praia e cuja família mantém firme o gosto pelo esporte. “Vieram para Aracaju muitos jogadores bons. Acredito que campeonatos como esse ajudam a promover o esporte no nosso estado”, afirma ela, e acrescenta que “a população daqui ainda não está acostumada com o esporte, com as regras do jogo, mas percebo que a cada ano o público é maior”.

Apesar de eventos como esses, o tênis em Sergipe sofre uma ligeira queda. “Depois que a academia de Jurinha Lobão fechou e ele veio a falecer e depois do fim da Era Guga, que saiu do cenário, o tênis deu uma caída”, afirma Marcel. “E a tendência é cair mais, se não tiver alguém que dê um empurrão”.

Por Raquel Brabec
Fotos de Thiago Souza dos Santos

09 dezembro, 2007

O "Novo" Movimento Estudantil da UFS

Mesmo pautada em assuntos polêmicos como a paralisação estudantil de 2007, o REUNI, as carteirinhas de passe escolar e a UNE, a disputa eleitoral para o DCE e Conselhos Superiores deste ano não teve a mesma intensidade dos anos anteriores. Esse clima morno não permitiu um debate maior. O curto espaço de campanha não elevou o nível de discussão na disputa.

Forças Políticas

Participaram do pleito quatro chapas, dentre elas a "Queremos mais Participação", da Articulação de Esquerda do PT. O grupo passava por um momento de refluxo. A desmobilização culminou com a saída de alguns quadros importantes às vésperas das eleições e tiveram como conseqüência a ausência na disputa dos conselhos, além do atraso para o início da campanha devido a falhas na entrega da documentação de inscrição. Dos grupos que disputavam a direção do DCE, era o mais enfraquecido.

A chapa "SOFIA" concorreu somente aos Conselhos Superiores. Tinha como argumento de persuasão o fato de serem os únicos a não possuírem membros ligados a nenhum partido político, porém a campanha do grupo foi irrelevante e não houve circulação considerável de material de propaganda. O principal espaço expositivo que a chapa ocupou foi o debate ocorrido em 27 de novembro, mesmo assim, usando apenas 10 minutos de fala no primeiro dos seis blocos do evento. Não se configurou como uma força de grande relevância na disputa.

A eleição, portanto, ficou polarizada entre duas chapas: "Integração para mudar", chapa de oposição, e "Quando o amor não basta...", chapa da atual gestão do DCE. Esta última, composta principalmente por militantes do Movimento Resistência e Luta (MRL), além de agregar também os principais quadros estudantis do PSOL. Criticados pela oposição por serem "esquerdistas", tiveram uma atuação explicitamente de oposição à reitoria. Participaram da Paralisação Estudantil, juntamente com outros centros acadêmicos, compondo o que o Professor Antônio Carlos do departamento de filosofia chamou de “frente estudantil” em seu artigo publicado recentemente no Jornal da Cidade. Para ele, que ensina na UFS há 15 anos, "a frente estudantil não passa de um grupo conservador de estudantes que acha que vai mudar o mundo a partir da UFS, de forma bastante radical. É por isso que ele é contraditório nas suas bases: quer mudar, mas não pelo viés democrático".

O DCE assume que não conseguiu fazer trabalho de comunicação de base tão eficiente por falta de fundos disponíveis e por não encontrarem vias alternativas baratas. Mas, durante a gestão deles, o Conselho de Entidades de Base (CEB) foi convocado oito vezes em um ano e dois meses, sendo apenas quatro desses encontros, em um ano e dez meses, da gestão anterior. Foram realizadas várias assembléias e plenárias em mais de um turno ao longo do ano, sendo a assembléia que decidiu pela paralisação a maior da história da UFS com quase 2.000 estudantes participantes.

Já a chapa "Integração para mudar", vitoriosa na disputa eleitoral, possui um perfil diferente da chapa anterior. O grupo não é homogêneo e tem uma construção recente. Como explica Natan Alves (Presidente), os últimos nomes foram inseridos pouco tempo antes do início do prazo de inscrição de chapas. Foi composta principalmente por integrantes da União da Juventude Socialista (UJS), juventude do PCdoB, e os estudantes que participaram do movimento Pró-aula, opositores da paralisação estudantil. Durante o período em que esteve a frente do DCE, a UJS foi marcada pela passividade diante de pontos polêmicos, como, por exemplo, a questão do repasse referente ao aluguel do espaço ocupado por um restaurante terceirizado no prédio do DCE . Decidiu-se que a reitoria receberia o dinheiro, e não mais o diretório estudantil. A UJS, que no material da campanha atual reivindica a verba novamente, concordou com a decisão, mesmo com grande parte dos estudantes em discordância. Também ficaram conhecidos por serem favoráveis aos projetos de reforma universitária do governo Lula. Mesmo tendo como Presidente um quadro da UJS e diretor estadual da UNE, que, há muito tempo, é hegemonizada pelo PCdoB e passa atualmente por uma forte crise de representatividade, a chapa argumenta que não pode ser culpada por erros de gestão pois não são exclusivamente UJS e seu Presidente está no 2° período.

REUNI

O REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – é uma medida do governo federal voltada para o ensino superior com o objetivo de expandir o acesso e combater a evasão estudantil.

Programa polêmico, tornou-se uma da pautas principais da campanha eleitoral. A última gestão do DCE é contrária ao projeto por entender que promoverá uma expansão sem financiamento suficiente, tornando ainda mais precária a qualidade do ensino, além de jogar a segundo plano a pesquisa e a extensão. Também afirmam que não será resolvido o problema da evasão, pois o grande índice não é devido à falta de flexibilidade das normas educacionais, e sim pela falta de um projeto de assistência que possibilite a permanência do estudante. Para manter a meta de 90% de aprovação - considerada utópica pelo grupo, já que países desenvolvidos com realidades bem distantes da brasileira têm uma média e torno dos 70% -, o professor se tornaria irrelevante no processo e sofreria sérios danos financeiros e de condições de trabalho segundo eles. Propunham, assim, que o REUNI fosse aprovado em plebiscito paritário com toda a comunidade acadêmica depois de um fórum de debates.

Na "Integração para mudar" não há um consenso sobre o tema. Alguns membros são a favor, já outros não se posicionam tão favoráveis. Em seu material de campanha propõem "ampliar as discussões sobre o REUNI sem enganar e sem disseminar o medo" por entenderem que a avaliação da gestão que se encerra está equivocada.

A forma de aprovação do projeto foi polêmica. Ocorreu em uma reunião do CONEPE em que líderes estudantis realizaram protestos na Sala dos Conselhos, no prédio da Reitoria. A reunião foi transferida para o centro de Aracaju, onde o REUNI foi votado e aprovado, sob contestação dos estudantes. Mas o professor Antônio Carlos acha que o reitor " Agiu democraticamente sim, porque tinha prazo, dia e hora para entregar a proposta ao MEC". E prossegue. "Além disso, ele encaminhou a proposta para os Centros discutirem, para a ADUFS, para as entidades da instituição com bastante antecedência. Eu mesmo participei de uma reunião no Centro de Educação e Ciências Humanas sobre o REUNI com uns 15 dias antes do dia “D”...

Quanto aos conselhos, existe uma discussão a respeito do caráter democrático desses espaços. Apesar de agregarem todos os setores da universidade, estes não estão representados de forma paritária. Boa parte dos representantes é composta por cargos comissionados, que, conseqüentemente, não teriam independência na hora de votar, segundo posicionamento da Frente Estudantil. Ulisses Willy, estudante de Ciências Sociais e conselheiro discente do CONSU em 2007, ainda argumenta que "o reitor, o presidente, é quem define toda e qualquer convocação de reunião. É quem defere ou indefere qualquer pedido de observação de projetos". Em contraposição, o professor Antônio Carlos avalia que os conselhos são sim democráticos. “Em nenhum lugar do mundo há paridade de votação nas instituições. Há representações proporcionais. Vivemos numa democracia representativa. Os representantes são justamente para isso, representar-nos! Porém, se há boa ou má representação é uma outra história...".

O que se observa nesses ambientes é que a reitoria possui uma ampla maioria em seu apoio. É a força política de maior relevância. Dessa forma, a representação estudantil de 2006-2007 era o grupo que quebrava a unanimidade, já que grande parte dos conselheiros não utilizava suas falas para problematizar os encaminhamentos. Então, levando em consideração as gestões anteriores da UJS, essa relação de oposição pode não existir mais.

Por Zeca Oliveira

07 dezembro, 2007

Vestibulandos concluem jornada de provas

Mais de 37 mil candidatos se inscreveram para disputar as 4.070 vagas oferecidas, em 82 opções de curso, pela Universidade Federal de Sergipe no Processo Seletivo Seriado deste ano. As provas foram realizadas entre os dias 2 e 5 de dezembro, em 43 estabelecimentos de ensino do estado. Segundo a secretária da Coordenação de Concurso Vestibular (CCV), Maria Helena, as provas foram realizadas sem grandes transtornos. “É comum alguns estudantes passarem mal, faltarem ou insistirem para entrar após o fechamento dos portões, mas fora isso, tudo ocorreu bem. Esse foi o vestibular mais tranqüilo que tivemos”, afirma.

Opinião dos estudantes

Para Adriana Freitas da Silva, que busca uma vaga no curso de biologia, as provas de maior dificuldade foram as de português, história e geografia. “Os exames de cálculo, por incrível que pareça, foram os menos complicados. As questões não exigiam o uso de muitas fórmulas porque o raciocínio era bem direto. O que me deixou surpresa foram as provas de história e geografia. Demorei muito tempo para responder porque os itens contavam com muita informação”. O estudante Fábio Henrique de Souza, concorrente para o curso de fisioterapia, concorda com Adriana. “As provas de matemática tinham tantas questões de lógica que eu consegui responder 10 itens do 2º ano sem precisar de fórmula alguma. Já as provas de português estavam muito detalhistas, interpretativas e longas, passei 20 minutos para ler o texto da prova do 1º ano”, diz.
Apoio das escolas

Todos os anos as escolas de maior porte montam tendas do lado de fora dos locais de prova para discutir questões e dúvidas com os alunos. “A gente chega aqui de manhã cedo e só sai quando todos os alunos vão embora. Esse apoio é fundamental para que eles se sintam seguros na hora de responder às questões”, diz a professora de literatura Martha Vieira. “Ouvi muitas reclamações dos alunos sobre a prova de português do 1º ano. Fiquei surpresa com a cobrança de discurso indireto livre, já que esse conteúdo não faz parte do programa da instituição”, continua. Além do apoio dos professores, algumas escolas colocam à disposição dos alunos um café da manhã reforçado. “Serve mais como um ponto de encontro, do que como um locar para se fazer a primeira refeição do dia. É uma forma de se distrair e esquecer, ainda que momentaneamente, da responsabilidade que é passar no vestibular”, diz o estudante Anderson Sobral.

Dissertação

Este ano, o tema da dissertação foi baseado no poema “Lembrança do mundo antigo” de Carlos Drummond de Andrade. A fundação Carlos Chagas, responsável pela elaboração das provas, propôs que os candidatos escrevessem sobre os problemas do mundo moderno, o que mostra que a escolha de assuntos pouco polêmicos continua.“Esse ano, o tema foi bastante amplo”, afirma o vestibulando André Sobral. “Fiquei meio em dúvida sobre o que escrever, mas acho que me saí muito bem. Dei enfoque à globalização, que contribui para padronizar a cultura mundial, e abordei superficialmente outros assuntos, como a violência e o avanços tecnológicos”, continua.
Vendedores ambulantes

Quem sai lucrando com a realização do vestibular da UFS são os vendedores ambulantes. Eles montam barracas na porta dos locais de prova e só vão embora quando o movimento dos alunos cessa. “O lucro costuma ser grande, mesmo com a concorrência de algumas escolas, que montam tendas com alimentos para os vestibulandos. Eu consigo, por exemplo, vender de 100 a 150 cachorros-quentes por dia”, afirma a vendedora Marília Alves.

Por Carla Santana

Site da Coordenação de Concurso Vestibular (CCV)

05 dezembro, 2007

A Longa Caminhada pela Conscientização

No último final de semana foi celebrado “O Dia Mundial de Luta Contra a AIDS”. Instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), o dia 1º de dezembro tem por missão alertar a população de como prevenir-se contra a AIDS e de como combater o preconceito contra os portadores do HIV.

No lançamento da campanha deste ano, o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, lembrou a todos que a AIDS é uma doença diferente de qualquer outra, definindo-a como ‘problema social’. “Independente do nosso papel na sociedade (...), de uma forma ou de outra, todos nós vivemos com o HIV. Todos nós somos afetados por ele”, afirma.

Esse ano, a campanha de combate ao vírus no Brasil, onde vive cerca de um terço dos soropositivos da América Latina, teve como slogan “Sua atitude tem muita força na luta contra a AIDS”. A idéia era de reforçar, principalmente entre os jovens, o compromisso de exercer a sexualidade sempre de forma segura e de não deixar que o preconceito intervenha em nenhum tipo de relação social.

Jovens em risco


De acordo com o Ministério da Saúde (MS), é nos adolescentes que a epidemia tem crescido. Eles, que têm iniciado sua vida sexual cada vez mais cedo, desconhecem ou destemem os riscos da não utilização de preservativos. Não se atentam, por exemplo, ao fato de que em nosso país cerca de 85% dos casos de HIV têm como causa o sexo sem proteção.

Outra razão que fazem dos adolescentes o foco principal da atual campanha, é o fato de a maior parte da população infectada ter entre 20 e 29 anos. Levando em consideração que o tempo médio de manifestação do vírus é de oito anos, presume-se que eles o tenham contraído entre os 13 e os 24 anos, aproximadamente. E, por isso, que se têm concentrado os trabalhos de prevenção nessa faixa etária.


Sergipe contra a AIDS

Aqui no estado as celebrações de luta contra a doença tiveram início no dia 23 de novembro, com o evento ‘Geração sem AIDS’. Composto basicamente de perguntas e respostas, convidados discutiram acerca das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e, assim, tiraram dúvidas de quase 1.000 adolescentes reunidos na Quadra Esportiva do Colégio Dom Luciano José Cabral Duarte.


O grande evento da campanha local foi, dessa vez, a 6ª Caminhada da Prevenção, realizada no dia 30 de novembro, última sexta-feira. Concentrados na Praça da Bandeira, milhares de estudantes de mais de 40 escolas municipais e estaduais da capital, além daqueles de São Cristóvão e da Barra dos Coqueiros, aguardavam ansiosos pelo início do percurso que os levaria até o Mercado Albano Franco.


Quando perguntados sobre a importância em participar do evento, alguns dos adolescentes diziam apenas buscar diversão, mas a maioria das respostas indicava consciência e maturidade. Maria Aparecida Santos Silva, de 15 anos, aluna do 7º ano do Colégio Municipal Oviêdo Teixeira, sabe que DST’s não são as únicas conseqüências da falta de prevenção. “É importante ‘pra’ nós que somos jovens, aprender a se prevenir para não cair na besteira de pegar AIDS e nem de engravidar”, disse referindo-se a duas de suas colegas que, na sua idade, já são mães.


Prevenção e Preconceito


O Coordenador Municipal do Programa DST/AIDS, José Eudes Barroso Vieira, conhece o problema da falta de prevenção em números: “Atualmente são 1.236 portadores de HIV acompanhados pelo Serviço de Atendimento Especializado (SAE), 688 desses pacientes têm AIDS”. No entanto, esses valores têm como base apenas os casos notificados. Há muitas pessoas que têm o vírus e não sabem por nunca terem feito o exame.


Por causa desses casos não diagnosticados, Vieira anuncia ser programada para o início de 2008 uma campanha maciça para estimular a população a fazer o teste do HIV. “Um serviço gratuito que pode ser sigiloso e que não precisa de agendamento”. Ele afirma que esse tipo de iniciativa é muito importante, pois ainda é grande o número de pessoas que mantêm relações sexuais sem a utilização de preservativos.


O medo de se submeter ao exame é apenas um dos diversos tabus relacionados à AIDS. Muitos ainda acreditam que portadores do HIV são necessariamente pessoas muito magras, tristes e acamadas, incapazes de trabalhar ou de praticar qualquer exercício físico. Porém, essas imagens não mais condizem com a realidade. Remetem somente a um tempo em que pouco se sabia sobre a enfermidade e não havia disponíveis bons coquetéis de medicamentos.


Foi nessa época, há 20 anos, com o intuito de melhorar a vida dos soropositivos e de proporcionar-lhes uma melhor visibilidade social, que o então médico Almir Santana (atual Coordenador Estadual do Programa DST / AIDS) passou a dedicar-se a essas pessoas. E, por tal atitude, também sofreu o preconceito. Almir acha inaceitável qualquer tipo de discriminação em nossa sociedade. Para ele, o caminho certo está para aqueles que lutam contra a epidemia e a favor da humanidade. É essa a outra face da luta: não só contra a AIDS, mas também contra o estigma da AIDS.


Por Christiane Matos

Foto: Christiane Matos

04 dezembro, 2007

80% de abstenções nas eleições para o DCE

"Eleições para o DCE? Ah, eu vi mesmo uma urna lá no HU, eles passaram por lá, mas eu estava tão ocupado que nem tive tempo de me informar melhor e votar, foi tudo tão rápido.”

Falas como a do estudante acima, que não quis se identificar, repetem-se nos corredores da Universidade Federal de Sergipe e retratam a indiferença com que o eleitorado se comportou nas eleições para a escolha da nova gestão do Diretório Central dos Estudantes. Apenas 20% dos cerca de 15 mil alunos compareceram às seções de votação.

Segundo dados fornecidos por Marco Túlio, presidente da Comissão Eleitoral, somente 2.813 estudantes depositaram seu voto nas urnas. “Isso é normal para eleições do DCE aqui na UFS, quando a participação é boa fica em torno de 3.500 estudantes, é normal”, afirma Marco Túlio.

A Eleição

A eleição para a escolha da nova gestão do DCE e dos representantes dos Centros para o Conselho Superior (CONSU) e o Conselho de Ensino e Pesquisa (CONEP) se realizou nos três últimos dias do mês de novembro. Dia 28 em Itabaiana e Laranjeiras e dias 29 e 30 em São Cristóvão e no Hospital Universitário. Mas a apuração só foi realizada no sábado, dia 1º de dezembro, às 18h, no pavimento superior do Restaurante Universitário. Duas horas depois, já se conhecia o nome da chapa vencedora: Integração para Mudar, com 1531 votos.

Chapa de oposição à gestão atual, a “Integração para Mudar” é, segundo Natan Alves, formada por estudantes de diferentes cursos, etnias e religiões que têm como objetivo “construir um DCE que represente de fato os estudantes da UFS, sem estar filiado a partidos políticos ou qualquer outra entidade”.

Natan, estudante do segundo período do curso de Letras, português-francês, é o presidente da gestão recém eleita. Apesar do pouco tempo como estudante na UFS, ele milita há muito no movimento estudantil, participou da UJS e do grêmio estudantil do Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe (CEFET-SE). “A experiência ajudou na conquista dos colegas para a formação da chapa, eu não apontei, perguntei quem gostaria de participar”, avalia.

Questionado sobre se o baixo percentual de votantes não comprometeria a legitimidade do diretório para representar os estudantes da UFS, Natan afirmou que “não, isso reflete o descrédito na instituição, principalmente após a última greve, se o estudante não acredita, não vota; com planejamento, faremos um trabalho que resgatará a credibilidade da entidade”.

Além da chapa vencedora, participaram do pleito mais duas outras: “Quando o Amor não Basta”, vinculada à atual gestão e “Por um DCE Participativo”, que obtiveram 816 e 301 votos, respectivamente. A eleição teve ainda 99 votos brancos e 66 nulos.

Posse

A posse da nova gestão, eleita para mandato de um ano (2008), ocorrerá nos próximos trinta dias, em data e hora marcadas na reunião do Conselho de Entidades de Base (CEB), órgão colegiado dos estudantes que delibera sobre eleições e outras questões referentes ao DCE. Na oportunidade, a atual gestão, que deixa a administração do diretório, fará a prestação de contas.

Por Luciene Oliveira
Foto: Luciene Oliveira

03 dezembro, 2007

"Não tenho como não ficar orgulhoso e satisfeito com essa polêmica"

O Filme “Tropa de Elite”, baseado na obra “Elite da Tropa” de Rodrigo Pimentel, alcançou uma repercussão que foi desde a ampla venda de cópias piratas ao sucesso nos cinemas, passando pela discussão a respeito do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o Bope, e a sua atuação nas favelas. O longa metragem aborda com vigor uma realidade que faz parte do cotidiano da população carioca: a guerra em que vive o RJ contra a criminalidade intensificada pelo crescimento do tráfico de drogas. Rodrigo Pimentel, hoje consultor de segurança, entrou para a polícia com 18 anos. Atuou no Bope até 2000. Em 2005, quando o roteiro do filme já estava sendo produzido, Pimentel escreveu o livro “Elite da Tropa”, sucesso garantido pela projeção do filme. Dando continuidade ao projeto de “Tropa de Elite”, lança sua minissérie que começa a ser filmada em maio. Seguindo uma rota de viagens para debates, Pimentel esteve na última sexta-feira, dia 30, em Aracaju, no Colégio Graccho Cardoso às 19h, para uma discussão sobre o filme.

Contexto - Como você avalia a repercussão que o filme alcançou para a sua vida profissional?

Rodrigo Pimentel - Hoje, em 48 dias eu já participei de 80 debates. Esse é o maior legado do filme: a promoção do debate e da discussão. A partir desta promoção é que se pode ter alguma mudança no quadro caótico da segurança pública no país. O filme não foi indicado ao Oscar, mas teve a capacidade de gerar discussão. É uma realização profissional, a realização da minha vida. Milhões de brasileiros conheceram melhor uma instituição policial. No entanto, vale ressaltar que não é só uma polícia que faz a segurança pública. Outras instituições, outras organizações e até a sociedade estão envolvidas nesse processo. Mas, a partir desse conhecimento da sua polícia, se pode buscar uma mudança. Nesse sentido o filme é uma realização profissional para mim. Esperava que ele promovesse um debate, mas não esperava tamanha repercussão. Nós tiramos da pauta nacional o assunto corrupção política, que até então estava em vigor, e resgatamos o assunto segurança pública, que estava esquecido. Então, eu não tenho como não ficar orgulhoso e satisfeito com essa polêmica.

Contexto - Até que ponto você avalia que o filme seja um retrato da sociedade ou da segurança pública brasileira? Deixemos a licença poética de lado...

Rodrigo Pimentel - É importante preservar outras corporações policiais no Brasil. Aquela polícia, a que o filme se refere, é a polícia do Rio de Janeiro. Com certeza a polícia de Sergipe não é igual, como a polícia do Rio Grande do Sul também não. Aquela é uma realidade, talvez até mais amena, da polícia no Rio de Janeiro. É uma polícia que está tomada pela corrupção endêmica. Quanto à sociedade, acredito que boa parte da sociedade carioca tenha se visto no filme, através da sua omissão ou através do seu hedonismo quando busca as drogas. Eu tenho ido a debates onde alunos levantam o braço e dizem: “Eu parei de consumir maconha depois que vi o filme”. Ou seja, a gente atingiu alguém, provocou a reflexão de um jovem. Ele se viu retratado no filme. Mas, é verdade que o jovem consumidor não é o único responsável pela violência. Existem dezenas de razões para a violência urbana nas capitais. O jovem consumidor de drogas é apenas uma delas. Desigualdade social, desemprego, corrupção, miséria são outras razões que colaboram com esse cenário.

Contexto - Levando em consideração a sua experiência, o que você passou enquanto policial aspirante ao ingresso no Bope, aquilo ali também foi um retrato? É realmente necessário que cada policial se submeta àquelas situações?

Rodrigo Pimentel - O Bope é uma unidade atípica. Ela é uma exceção, não é regra. Unidades de Operações Especiais possuem suas místicas, seus símbolos, seus rituais de passagens. Então, se a polícia militar do Rio de Janeiro quer possuir uma unidade de intervenção, uma unidade de operações especiais para atuar daquela forma, tudo aquilo é necessário. A questão é: a polícia do Rio de Janeiro quer continuar tendo um Bope? A sociedade carioca quer continuar tendo um Bope? Se ela optar pelo sim, todo aquele sofrimento é necessário, faz parte da formação de um policial que trabalha na guerra, não na segurança pública. Eu diria que se o governo insistir nas operações em favela, o que eu não concordo, o Bope é necessário e o curso de formações especiais é necessário.

Contexto - Por que você não concorda com as operações em favela?

Rodrigo Pimentel - Elas são inúteis, não trazem resultados palpáveis, não reduzem a criminalidade, os homicídios, os roubos de carros. Elas não conseguem sequer inflacionar o preço das drogas. Elas não trazem nenhum resultado favorável à sociedade, ao morador de favela, nem mesmo à classe média e nem mesmo à polícia. No entanto, elas têm um efeito midiático e conseguem, com isso, o apoio da população, na ordem de 90%. Então, os governos insistem nessa fórmula. Como existe apoio popular, o governo adota essa estratégia há 20 anos. Isso não é novidade do governo Sérgio Cabral. Há 20 anos o estado combate o crime da mesma forma e a polícia executa. E está mais que provado que isso não dá certo. O enfrentamento nunca deu e não vai dar certo. Agora, cabe a gente, com matérias de jornais, com debates, com livros, filmes e documentários, esclarecer a sociedade que isso não funciona. Se a sociedade entendesse isso, ela iria se levantar contra essa situação e perceber que essas operações são um equívoco.

Contexto - Você acha que o filme também deixou isso retratado?

Rodrigo Pimentel - Não. Pelo contrário.

Contexto - Ele gerou um efeito reverso?

Rodrigo Pimentel - Evidentemente. Mas, eu não estava preocupado com isso. Eu estava preocupado em fazer uma obra de entretenimento, que as pessoas assistissem, se divertissem e refletissem também.

Contexto - Os debates posteriores foram propositais?

Rodrigo Pimentel - Não. Não foi proposital. O filme é um entretenimento só. Várias questões são abordadas no filme: a corrupção, a tortura, a miséria, a favela, o cinismo da classe média. Mas, eu não tinha como propósito denunciar ou condenar ações em favelas. O filme não tinha uma função social, confesso que não tinha. O filme tinha função de entretenimento. Mas, se você assistir uma trilogia, começando em “Notícias de uma Guerra particular”, passando por “Ônibus 174” e depois assistindo “Tropa de Elite”, você tem como notar que eles seguem uma linha de raciocínio. O “Capitão Nascimento” não queria aquilo. Ele queria sair na unidade e sequer concordava com as operações, as achava equivocadas e inúteis. Mas, a leitura final, confesso, é a leitura de que a guerra funciona, de que aquilo tudo é eficiente, de que aquilo é uma solução inteligente, apesar de o personagem principal estar em eterno conflito, querendo abandonar aquele cenário. Mas, a leitura final, até por conta do impacto das músicas e da violência, talvez tenha dado uma falsa idéia ao carioca e talvez ao brasileiro de que aquilo tudo funciona.

Por Viviane Marques

25 outubro, 2007

"Imprensa e minorias sociais historicamente discriminadas" será tema de disciplina ofertada pelo DAC

A disciplina Tópicos Especiais em Jornalismo Impresso que será ministrada pelo professor Dr. Fernando Barroso no semestre letivo 2007/2 terá como tema a "Imprensa e minorias sociais historicamente discriminadas". Segundo o professor, o objetivo é fazer uma avaliação da imprensa gay, imprensa negra e imprensa feminina. Para tanto, o curso utilizará os recursos oferecidos pelas abordagens diacrônica e sincrônica de modo a subsidiar uma avaliação do desenvolvimento histórico dessas modalidades de imprensa, assim como de suas especificidades e situação atual.

A disciplina será dividida em três unidades, cada qual voltada para uma imprensa específica. Para Barroso, é importante que, além dos interessados nos estudos sobre a temática, também se inscrevam estudantes de jornalismo, e de outros cursos da UFS, gays, negros e mulheres, pois, ao trazerem suas experiências pessoais de leitores e de produtores de textos midiáticos para jornais e revistas especializadas, eles enriquecerão o curso. Ainda segundo o professor, “importa ter interesse e pretender fazer leituras e participar de debates. Quem sabe não podemos formar grupos de pesquisa a partir desse encontro?”, pondera.

Para mais informações, acesse:

DAA - Oferta de Disciplinas por Curso

12 outubro, 2007

Hospital Universitário torna-se centro de referência em tratamento para fumantes em Sergipe

A mídia, bem como instituições governamentais e ONGs, tem intensificado a divulgação dos males provenientes do tabaco. Porém, informar que o cigarro possui mais de 4.700 substâncias tóxicas, dentre elas a nicotina e o alcatrão, não é suficiente para estimular um fumante ativo a abandonar o vício.

“É mais difícil para o fumante vencer a dependência psicológica do que a dependência química, uma vez que aquela envolve sentimentos e conflitos internos, que para serem resolvidos dependem muitas vezes não só do paciente, mas também de pessoas que o cercam”, explica a enfermeira Andréia Aragão. Segundo a assistente social Wlívia Kolming, muitas vezes os fumantes encaram o cigarro como um suporte emocional, um companheiro. “Eles têm a consciência dos malefícios do tabaco, mas existe a dependência psicológica, emocional”, relata Kolming.

Andréia Aragão e Wlívia Kolming atuam no Programa de Abordagem e Tratamento ao Fumante do Hospital Universitário (HU) de Sergipe, que ainda conta com a participação de um médico pneumologista, uma psicóloga e um farmacêutico. O Programa existe nacionalmente e seu formato é proveniente do Ministério da Saúde. Em Sergipe, ele funciona desde outubro de 2006 e foi implantado com o incentivo da Secretaria de Estado da Saúde (SES), após a capacitação dos profissionais pelo Instituto do Câncer (INCA).

Tratamento diferenciado

O ponto forte do tratamento são as sessões de grupo, onde os fumantes trocam experiências, exprimem suas angústias e dificuldades. Além das sessões, cujo objetivo é fazer o fumante superar a dependência psicológica, o Programa oferece reuniões informativas e educativas. Outro aspecto importante é que a utilização de medicamentos não é prioritária. Segundo Wlívia Kolming, os remédios são aplicados apenas naqueles pacientes que não conseguem abandonar o vício com a participação nas sessões.

A nutricionista Maria Valdenice tentou parar de fumar várias vezes, mas sempre recaia no vício. Hoje, ela é uma ex-fumante. Valdenice relata que o grupo e a equipe de apoio fizeram o diferencial para alcançar a vitória de largar o vício. “No grupo, um apóia o outro, um se espelha no outro. Existe a equipe diretiva a qual a gente não quer desapontar, porque tem todo um esforço dos profissionais em nos dar instrumentos para abandonar o cigarro. Eles torcem por nós e compete à gente corresponder a eles”, afirma.

É preciso querer

De acordo com Andréia Aragão coordenadora do Programa, os fumantes que procuram o tratamento já tiveram ou têm algum problema de saúde, que se não é causado pelo cigarro, pode ser agravado por ele. “Temos também pacientes que procuram o serviço por causa do apelo dos familiares que temem que o fumante adquira patologias condicionadas pelo hábito de fumar”, completa.

Wlívia Kolming acrescenta que o receio de ser um exemplo negativo em casa também estimula o fumante a procurar tratamento. Porém, esses motivos não são suficientes para que o fumante seja aceito pelo Programa. O critério básico para isso é demonstrar interesse próprio em querer parar de fumar.

Tanto Maria Valdenice, quanto Iracema Andrade e Dginan Rodrigues preencheram o critério básico e foram incorporadas ao grupo de tratamento. Elas foram unânimes ao relatar que não apenas os problemas de saúde as conduziram ao Programa, mas também as rejeições e as privações que sofriam por serem fumantes. A paciente Iracema Andrade, que tem evoluído no tratamento, conta que era taxada de “Madame Nicotina” pelos familiares. “Tenho um sobrinho que sempre perguntava: hoje você está cheirosa ou está fedendo a cigarro? E isso me incomodava, mas tomei vergonha e acho que chegou a minha hora de acabar com isso”, desabafa Andrade.

Da mesma forma, a paciente Dginan Rodrigues diz ter sido mais rejeitada pela própria família. “E eu sempre falava para eles: não me incomodem, deixem que quando chegar o tempo certo eu largarei o cigarro porque não sou pior do que os outros”. Rodrigues ainda relata que os problemas familiares influem muito no ato de fumar.


A dor da abstinência X Vantagens da conquista

Superar rejeições, privações e conflitos familiares, tudo causado pelo cigarro, foi o desejo dessas três mulheres. Mas durante o percurso até a vitória, os pacientes podem estar sujeitos a recaídas. Iracema Andrade, que está no tratamento há quatro meses, conta que havia dias em que fumava uma carteira de cigarro de uma só vez, o que a fazia chorar tanto por estar quebrando o seu objetivo quanto pelos problemas pessoais que a fizeram recorrer ao tabaco. “Me senti uma nulidade quando quebrei meu comprometimento de não fumar mais”, diz Andrade.

De acordo com Andréia Aragão, o paciente em tratamento pode ter recaídas por conta de problemas na família, no trabalho, pela falta de apoio e outras fontes de stress que o instigam a buscar o “amigo fiel”: o cigarro. A enfermeira ressalta que nas duas primeiras semanas de abandono do vício, os sintomas típicos da abstinência são: fissura – desejo intenso de fumar –, tremores, nervosismo, irritabilidade, dores de cabeça e insônia. “Tais sintomas podem ocorrer ou não, e podem variar de intensidade de paciente para paciente”, esclarece.

Cientes desses momentos de reincidência, já na primeira sessão a equipe de profissionais procura oferecer subsídios para que o paciente drible essa vontade. “A fissura dura em média cinco minutos. Se o paciente consegue passar esse tempo sem fumar, dizemos a ele que provavelmente conseguirá permanecer sem o cigarro”, diz Andréia Aragão. Para tanto, a equipe oferece algumas dicas de como ultrapassar esses cinco minutos: consumir alimentos com baixas calorias; beber bastante água; descascar laranja; mascar gengibre, canela; praticar atividade física ou qualquer outra atividade prazerosa que distraia a vontade de fumar.

“Chupar gelo e balinha sem açúcar era ótimo, comer cenoura também era ótimo!”, comenta Maria Valdenice, para quem todo o esforço valeu a pena: “Hoje eu me sinto em liberdade, tudo está mais tranqüilo porque antes não conseguia assistir a um filme no cinema, não conseguia permanecer dentro de um supermercado, pois sempre tinha que sair dos ambientes para fumar”, diz satisfeita a ex-fumante.

A vida social de Maria Valdenice, bem como a dos seus companheiros de grupo, tem melhorado após procurarem o apoio do Programa de Abordagem e Tratamento ao Fumante do HU. “Ao parar de fumar, os pacientes se aproximam mais das pessoas, pois agora não têm vergonha do cheiro de cigarro que antes exalava pelos poros e que estava nos cabelos, no hálito. Não precisam mais se ausentar dos locais para fumar, com isto, tornam-se também mais produtivos no ambiente de trabalho, além de se sentirem mais dispostos para fazer atividades físicas e, assim, melhorar a aparência. Enfim, eles mencionam uma infinidade de benefícios”, ressalta a coordenadora do Programa.

Por Tiale Acrux

Fotografia: Arquivo – ASN (Agência Sergipe de Notícias)