27 outubro, 2006

Exposição comemora 50 anos da obra “Grande Sertão: Veredas”

Entre os dias 23/10 e 10/11 estará sendo realizada a exposição “Grande Sertão: Veredas – Nas Trilhas de Guimarães”, na Biblioteca Central (Bicen) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O evento comemora o cinqüentenário da obra do escritor João Guimarães Rosa – considerada por muitos a obra-prima da literatura brasileira – e faz parte de um projeto de comemoração da Semana Nacional do Livro e da Biblioteca.

O idealizador da exposição foi o mestre e bibliotecário da UFS, Justino Alves Lima. Nela, Justino tenta combater aquilo que considera ser o pior vício dos brasileiros: a falta de valorização do que é autenticamente nosso. “No Brasil, não temos boa memória” diz ele, criticando o fato de o brasileiro não conhecer mais a fundo sua cultura, o que o impede de criar outros hábitos e costumes que consolidem um sentimento de identidade nacional. Ele contrapõe essa falta de atitude ao comportamento do povo espanhol, que no ano passado comemorou o 400° aniversário do livro “Dom Quixote de la Mancha” – a obra prima do país.

A Espanha festejou o aniversário durante todo o ano de 2005, tendo como uma das iniciativas para a divulgação mundial da obra, e conseqüentemente de sua cultura, a construção de uma estátua de Dom Quixote montado em seu cavalo na Avenida Paulista, em São Paulo. Isso contrasta com os R$ 100,00 de que Justino dispôs - mais a colaboração da professora Adriana Nogueira, do Departamento de Artes e Comunicação Social da UFS, e de seus alunos de Pintura I - para a preparação da Galeria Jordão de Oliveira, onde está acontecendo o evento.

Exposição

A exposição está dividida em três etapas. A primeira é um paredão de painéis que contém informações biográficas e bibliográficas do autor e da obra, respectivamente. A segunda é um mural que ilustra com uma linha a vida de Guimarães Rosa. No chão, complementando o mural, um mapa do sertão mineiro marca o percurso de 240 km feito pelo autor para obter as informações que hoje estão nos seus livros. E a terceira etapa é composta por duas produções, ainda inacabadas, que serão incrementadas no decorrer da exposição, enfatizando o mote de Guimarães Rosa, que diz que para nada existe nem começo nem fim: tudo é uma continuidade. Idéia corroborada pela última palavra do livro “Grande Sertão: Veredas”: “travessia”.

João Guimarães Rosa

Guimarães Rosa é considerado pelos críticos literários um dos três maiores escritores brasileiros, ao lado de Machado de Assis e Graciliano Ramos. No Brasil, nunca um conjunto de obras foi tão estudado pela classe acadêmica como o dele. Sua produção literária é caracterizada por um forte rebuscamento da linguagem: uma linguagem que reproduz a fala do sertanejo em sua sintaxe, sua melodia e sua subjetividade; uma linguagem que reinventa palavras, fundindo aleatoriamente radicais de línguas diferentes; uma linguagem que, como o próprio Guimarães definiu, é “um idioma próprio, meu”.

Grande Sertão: Veredas

O livro é ambientado no sertão mineiro e é narrado em primeira pessoa por Riobaldo, o protagonista da história. Ele conversa o tempo todo com um interlocutor que nunca se manifesta, e cuja participação só é sugerida pelas respostas do sertanejo. Esse interlocutor parece ser um doutor, um homem letrado, talvez o próprio Guimarães Rosa. Na conversa, a personagem expõe impressões que teve de acontecimentos de sua vida no sertão, e sobre temas metafísicos, como a existência ou não do diabo. Tudo isso, somado ao tratamento minucioso que o escritor confere à linguagem, origina uma obra de arte que é um primor em originalidade e universalidade.

Por João Serpa

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