14 junho, 2007

Secretário de Estado da Saúde fala sobre o novo modelo de saúde pública em Sergipe


A Secretaria de Estado da Saúde (SES) de Sergipe apresentou, no final do mês de maio, as medidas que serão tomadas para a composição do novo modelo de saúde pública no estado. O evento aconteceu no Centro de Convenções de Aracaju e contou com a presença de mais de 40 prefeitos sergipanos.

Para entender o funcionamento desse novo modelo, o Blog do Contexto entrevistou o secretário Rogério Carvalho. Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e doutor em Saúde Pública pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carvalho também exerceu o cargo de secretário municipal de Saúde de Aracaju e foi pesquisador da Comissão Nacional de Avaliação de Ensino Médico.

Contexto: Em que consiste esse novo modelo de saúde pública em Sergipe?
Rogério Carvalho: Consiste numa reforma sanitária estadual. Foi apresentado um conjunto de medidas voltadas para a redefinição da institucionalidade da saúde e, obviamente, nesse pacote está a reforma administrativa da Secretaria. Essa é a primeira etapa que compõe o projeto de reforma sanitária. Na seqüência, foram apresentadas as políticas como: Saúde da Família, Atenção Laboratorial Especializada, Atenção Hospitalar, Atenção Urgência-Emergência, Atenção Psicossocial. Além disso, num terceiro momento, o Governo apresentou sua política de promoção à saúde. O governador anunciou também os investimentos iniciais para fazer essa reforma sanitária, apresentando uma proposta de custeio para os hospitais de Aracaju, como o Cirurgia, o São José e o Santa Isabel, no valor de R$ 19,2 milhões ao ano.

Contexto: Quais serão as mudanças imediatas na saúde em Sergipe com a implantação desse novo modelo?
Rogério Carvalho: Mudanças ocorrem paulatinamente. Nós temos um ponto de partida, mas temos uma viagem inteira para se chegar até a mudança. A mudança ainda está a alguns anos de onde estamos e isto significa uma caminhada na execução de todos esses investimentos, na implantação de todas as mudanças institucionais a fim de que se mude, de fato, o resultado da ação do Estado. Dessa forma, uma mudança imediata ocorreu dia 22 de maio, quando foi apresentada a nova reorganização do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No que diz respeito aos hospitais regionais, em vez de terceirizá-los, montaremos uma Fundação responsável pelo gerenciamento desse setor, o que demonstra um Estado portador de inteligência gestora, a qual foi abandonada e negligenciada ao longo dos últimos anos.

Contexto: Existem parcerias para o financiamento desse novo modelo de saúde?
Rogério Carvalho: Já fiz uma reunião com o Secretário de Assistência à Saúde e combinamos o escopo da parceria com o Ministério da Saúde. Isso deve facilitar a viabilização de todo esse projeto, que requer investimentos na ordem de R$ 150 milhões.

Contexto: De acordo com o que foi divulgado pela Secretaria de Estado da Comunicação (Secom), será implantada uma nova política de promoção de saúde do Governo. Como ela funcionará especificamente? Quais são as áreas e as prioridades?
Rogério Carvalho: Quando se refere à saúde, fica difícil trabalhar com prioridades, porque tudo é prioridade. Estamos tratando da vida, mas vamos focar em alguns grupos mais vulneráveis, como as mulheres, crianças, adolescentes e idosos. Nós ainda não apresentamos a política do idoso porque a ação só poderá ser executada no ano que vem devido à necessidade de articular uma ação pré-existente com outras mais recentes. Com relação à área da mulher, iremos despersonalizar a ação de promoção à saúde. Isso significa que vamos ter campanhas de detecção de câncer de colo de útero, de mama, revisão da situação de planejamento familiar das mulheres, não como uma ação de troca política, mas como uma ação de política de promoção onde o foco será o cliente-cidadão. Essas ações serão feitas em conjunto com os municípios, através de capacitação do pessoal e de repasses de recursos financeiros. A idéia é atingir toda a população de mulheres de 25 a 60 anos, crianças de um a nove anos e adolescente de 10 a 20 anos.

Contexto: Divulgou-se na mídia que um dos convênios será realizado junto ao Hospital Universitário (HU). Como isso irá acontecer?
Rogério Carvalho: Estamos repassando pessoal e equipamentos para o funcionamento da unidade de cirurgia bariátrica [redução do estômago com fins de recuperação do peso ideal] e para as enfermarias de infectologia e pneumologia. Também estamos custeando oito bolsas de residência médica no HU, num valor total de R$ 183 mil ao ano. Além disso, há um investimento de R$ 50 mil para a instalação de equipamentos no novo prédio de apoio diagnóstico.

Contexto: Sergipe foi o segundo estado brasileiro a possuir uma cobertura do Serviço Móvel de Urgência (Samu), instalado na gestão anterior. O que o Samu terá de novidade com o atual Governo?
Rogério Carvalho: Ele não foi instalado como Samu de cobertura estadual no governo anterior. Isso foi consolidado a partir da atual gestão, certo?! O que tem de novidade? Tudo! O Samu foi concebido num esquema semelhante ao das regiões metropolitanas. Nós mudamos e construímos um conceito de Samu estadual de verdade, no qual se definiu a centralização das operações sob a responsabilidade do governo estadual. O Samu vai agir em raios limitados, ou seja, as ambulâncias de suporte básico e de suporte avançado ficarão no centro de um raio de atuação de forma a diminuir o deslocamento, mas sob um sistema de controle centralizado, com três bases reguladoras independentes. O atual governo reconfigurou o Samu estadual e aumentou a frota de veículos de 21 para 50 unidades, inclusive para se prestar atendimento na zona rural.

Contexto: Quais providências serão tomadas para resolver o problema da concentração de pacientes no Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho (HUSE)?
Rogério Carvalho: Tudo isso é folclore. A verdade é que os hospitais regionais não têm condições e jamais irão substituir o papel do HUSE. Existe uma superlotação decorrente da baixa resolutividade dos hospitais regionais e vamos trabalhar para que eles segurem parte da demanda. Mas a demanda que obstrui e que impede o bom funcionamento do HUSE não é essa, e sim a específica. São os pacientes mais graves que o HUSE não tem capacidade instalada para suportar. Assim, serão várias as medidas a serem tomadas. A primeira é investir na rede hospitalar de Aracaju, contribuindo com o custeio da rede no valor de R$ 1,6 milhão ao mês; a segunda é investir nos hospitais Santa Isabel, São José e Cirurgia, além dos dois hospitais municipais de Aracaju com a finalidade de aumentar a capacidade de absorção por parte desses hospitais daqueles casos que tiveram tratamento inicial no João Alves e que, a partir de então, precisam de tratamento especializado. Outra medida é a construção de dois hospitais regionais e reforma e ampliação de outros dez hospitais de menor porte no interior do Estado. Está programado um investimento inicial de R$ 10 milhões em equipamentos, mais R$ 4,5 milhões, aproximadamente, na obra de construção do Pronto-Socorro, a construção do Hospital do Câncer e a retirada do setor de pneumologia do Hospital João Alves (HUSE), que está sendo transferido para o Hospital Universitário (HU).

Contexto: Enquanto especialista e atual secretário, qual seria o modelo ideal de saúde pública e o que o senhor pretende atingir?
Rogério Carvalho: Essa pergunta é de difícil resposta porque o modelo ideal de saúde pública é aquele em que nós conseguimos garantir o acesso a todas as pessoas, ou seja, ter eficiência máxima. Atualmente nós temos objetivos e algumas metas de forma a tornar o sistema de saúde estadual capaz de atender às principais demandas da população com eqüidade, respeitando e garantindo o acesso a quem precisa.

Por Grazielle Matos

Para mais informações, acesse:

Foto: Márcio Garcez/Saúde

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal esta entrevista!!!!!

Extremamente informativa...e demonstram que os estudantes de jornal da UFS não ficam devendo nada à jornalistas formados

Anônimo disse...

Entrevista muito bem feita! Agora o Blog Contexto ficou mais completo, até entrevista direta possui!
Parabéns ao Blog e a futura jornalista Grazielle