Há muito foi-se o tempo em que as mulheres só cumpriam tarefas domésticas. A dupla jornada de trabalho feminina, que consiste em cuidar da casa e do trabalho satisfatoriamente, fortaleceu-se a partir da segunda metade do século XVIII, época da Revolução Industrial. Mulheres trabalhavam diariamente nas grandes fábricas por 12, 13, até 18 horas para ajudar nas despesas domésticas. O resto do dia era dedicado à educação dos filhos e ao descanso. O industrialismo e a evolução do modo de produção capitalista, que marcaram o início dos tempos modernos, atuaram de forma significativa nos processos econômicos, culturais e sociais que impulsionaram o surgimento das chamadas mães modernas.
A socióloga e especialista em relações conjugais Christine Jacquet afirma que, hoje em dia, existe igualdade entre homens e mulheres no que se refere aos valores familiares. Porém, quando as práticas são analisadas dentro de uma relação familiar, percebe-se que somente as mulheres desempenham uma dupla jornada de trabalho. São raros os casos em que há uma divisão igualitária de tarefas domésticas entre os sexos.
Trabalho X Maternidade
A técnica social da Caixa Econômica Federal (CEF) Maria Adelaide dos Santos é mãe solteira de duas meninas: Eveline (21) e Victória (11). Logo após a graduação em Serviço Social, ela passou num concurso da CEF e foi transferida para o interior de Sergipe, onde engravidou de sua primeira filha. “Eu vivia para trabalhar, cuidar da casa e da criança”, lembra.
Alguns anos se passaram e Santos decidiu retornar a Aracaju e, por causa disso, teve seu salário reduzido. Na capital sergipana, ela engravidou de sua segunda filha. Porém, dessa vez, a técnica teria a presença constante da mãe para ajudar na criação das duas meninas. “Foi uma dificuldade muito grande, mas não tenho certeza se teria sido diferente se eu ficasse em casa o tempo todo”, declara Santos. De acordo com ela, o fato de ser mãe solteira não teve influência negativa na criação das filhas, principalmente pelo fato de possuir uma renda razoável para mantê-las sem maiores privações.
Para a professora de português Cláudia Fumie, casada há 13 anos e mãe de Luísa (4), as dificuldades não foram muito diferentes. Ela e o marido decidiram ter um filho somente após terem completado nove anos de casamento. Antes disso, eles não se consideravam estabilizados financeiramente para enfrentar o desafio de se tornarem pais.
Luísa nasceu e Fumie decidiu acompanhar de perto o crescimento da filha. “Eu optei por um salário bem menor para poder ficar com Luísa, em vez de continuar dando aulas em todos os turnos”, justifica a professora. Ela considera uma vantagem significativa o fato de ter o companheiro em casa, já que os dois compartilham as tarefas domésticas e dividem a responsabilidade de cuidar de Luísa.
Vantagens e desvantagens de ser uma “mothern”
As chamadas “motherns” (trocadilho em inglês que mescla as palavras “mother” – mãe – e “modern” - moderna) têm o desafio de conciliar trabalho, família e diversão. Segundo a psicóloga e doutora em psicossociologia Elza Francisca Corrêa, uma das vantagens mais significativas de ser uma mãe moderna é o fato de que os filhos tendem a alcançar a independência de maneira mais rápida. Isso acontece porque as mães não ficam o dia inteiro monitorando o que eles fazem. A psicóloga argumenta ser desafiante para uma criança ter pai e mãe trabalhando fora de casa. Os filhos passam a resolver e solucionar determinados problemas sem a ajuda dos pais, o que pode proporcionar um maior desenvolvimento intelectual nessas crianças.
Uma desvantagem muito discutida pela sociedade é a suposta fragmentação da família. Corrêa questiona esse conceito. Segundo suas palavras, “a família não está se fragmentando, ela está se reorganizando em outros termos”. A especialista observa que o maior obstáculo para as mulheres modernas é a obrigação de dar conta do trabalho e da família com êxito. Ela acrescenta que, mesmo casada, é mais comum as mulheres realizarem maior quantidade de tarefas domésticas que seus companheiros. Além disso, o fato de ter que cumprir uma dupla jornada de trabalho desencadeia elevado desgaste emocional e físico.
Por Díjna Torres
Para mais informações, acesse:
Blog de duas “motherns”, que deu origem a um programa de TV e dois livros.
Imagem: Reprodução da capa do livro Mothern - Manual da Mãe Moderna. Matrix Editora
Imagem: Reprodução da capa do livro Mothern - Manual da Mãe Moderna. Matrix Editora
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