30 novembro, 2008

Consciência negra em Sergipe ainda é incipiente

Em 20 de novembro de 1695, o líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência negra ao escravismo no Brasil, Zumbi, foi assassinado por um bandeirante.

Quase 300 anos depois, em 1971, o dia foi escolhido para fomentar reflexões e conscientizar sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e a importância da cultura e do povo africano na formação cultural de toda a nação, tornando-se Dia da Consciência Negra. Em 2003, a data passou a ter caráter oficial e nacional; várias cidades no país a decretam como feriado.

Um movimento social que retomou sua expressividade no cenário político contemporâneo foi o Movimento Negro. Um de seus elementos constitutivos, desde os tempos de escravidão, é a luta pela superação das desigualdades sociais entre negros e brancos na sociedade brasileira.

Em Sergipe a luta pela igualdade ainda está no início. Segundo Leila Pardo, mobilizadora do movimento no Estado, a dívida da sociedade com a população negra é imensa. “É nesse contexto que se insere o debate sobre a urgência de políticas públicas de ação afirmativa. É exigir mais verbas orçamentárias para área social, programa de ação na área da saúde contemplando a diversidade étnica, escola pública de qualidade com metodologia vinculada à pluralidade racial, titulação de terras remanescentes de quilombos, valorização e qualificação rumo à igualdade de oportunidade no mercado de trabalho”.

No município de Salgado, o projeto Consciência Afro-brasileira é realizado em parceria com as escolas públicas e particulares do município para instituir o debate sobre a questão racial na sociedade. Esse é um grande feito que, segundo, Maria Silva, idealizadora do projeto, objetiva influenciar o Estado no sentido de criar estruturas governamentais que possam desenvolver políticas públicas anti-racistas.

O Dia Nacional da Consciência Negra é marcado por manifestações, passeatas e seminários em várias cidades brasileiras. Em Sergipe, especialmente na capital, houve debates acadêmicos e mostras de vídeos, como na Universidade Federal de Sergipe; a I Semana da Consciência Negra na Universidade Tiradentes; passeatas, como o Cortejo Afro-religioso que partiu do bairro Cirurgia até o Centro de Criatividade e a Marcha da consciência negra, promovida pela organização não-governamental Criança e Liberdade (Criliber); seminários em escolas públicas e privadas, e apresentações de grupos de afoxé.

Um total de 225 municípios do país decretaram o dia 20 de novembro como feriado , inclusive Japaratuba e Pacatuba, interiores do Estado.

O Museu Afro-Brasileiro de Sergipe, em Laranjeiras, montado especificamente para o estudo da presença do negro na formação do povo brasileiro, abriu a exposição 'As Deusas Iabás'. Também discutiu, através da “Mesa Redonda Cultura e História Afro-Brasileira na Escola: reflexões e debates”, o papel da Lei 10.639/03, que instituiu a inclusão da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira nos ensinos fundamental e médio.

Como disse o professor Genésio José dos Santos, do departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, a diversidade de formas de celebração do 20 de novembro permite ter uma dimensão de como essa data tem propiciado congregar os mais diferentes grupos sociais. “É importante que se conquiste o ‘Dia Nacional da Consciência Negra’ como o dia nacional de todos os brasileiros e brasileiras que lutam por uma sociedade de fato democrática, igualitária, unindo toda a classe trabalhadora num projeto de nação que contemple a diversidade engendrada no nosso processo histórico”.
Por Marianne Heinisch

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