12 dezembro, 2008

Polêmica sem compromisso


Igor Matheus Pinheiro de Mendonça, 24, é estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, estagiário na Secretaria de Comunicação do Estado e atualmente tem conseguido feitos inéditos na imprensa sergipana com seu trabalho, como estagiário no jornal Cinform. O Dr. Igor, um dos apelidos que recebeu do meio artístico sergipano, com suas críticas musicais na coluna ‘ComqueRoupa’, que assina no caderno de cultura do jornal, tem gerado polêmica sem precedentes entre o círculo artístico/musical sergipano.

No Cinform, desde junho de 2007, Igor Matheus foi contratado como estagiário do caderno de esportes, função que exerce até hoje e, somente depois de 8 meses, começou a trabalhar como colaborador do caderno de cultura, onde ficou mais conhecido. Na coluna ‘ComqueRoupa’, Igor resenha obras musicais de artistas, em sua maioria, sergipanos. Seu texto é ácido, e a crítica pesada, dando, inclusive notas aos cd’s analisados. Ele faz isso sem compromisso e sem medo de parecer desrespeitoso. “Apenas faço uma gracinha, uma referência às notas que são dadas aos discos nas revistas de Heavy Metal que eu sempre lia.”.

Em sua coluna, não se limita a emitir opinião sobre determinada obra musical. Na posição de crítico, ele se coloca como avaliador e até juiz de qualidade do produto. Para tanto, Igor conta com seu conhecimento na área: “Toco teclado desde os 14 anos, fiz dois anos de piano erudito e sou autodidata no violão há pelo menos 3 anos.”, declarou.

Logo nos primeiros meses, suas resenhas trouxeram contestações públicas por parte dos artistas resenhados. Nino Karva, o primeiro resenhado por Igor, manifestou-se logo após a publicação da crítica: “Quem é esse ‘gênio’ da crítica musical sergipana? A sua especialidade é a crítica incompetente e cheia de maledicências?”.

A postura do Cinform em relação a seu colaborador é de defesa e apoio a seu trabalho, “Igor Matheus cumpre seu objetivo com uma desenvoltura sem precedentes para um sujeito da idade dele – 24 anos. E o faz sem concessão e nem pieguismo açucarados.”, afirmou Jozailto Lima, editor chefe do Cinform, em editorial a favor do crítico e contra a “tradição de louvação barata, adulatória, marcada pelo compadrio, acobertada pelo manto do elogio insincero e emocional, que já dura uma vida inteira em terras de Sergipe, e só tem se prestado a desservir aos que lidam com arte, às vezes dando status de ouro ao que se assemelha ao lixo”. O jornal acredita que o propósito de Igor seja “abrir um bom foco de observação sobre a música sergipana, que o Cinform particularmente defende, porque quer vê-la boa e bem – e isto não se faz com indiferença. Se o crítico critica a obra, critiquem a crítica e não o crítico”.

Sobre o trabalho do crítico, Marcela Prado, formanda em jornalismo da UNIT aponta: “Acho que ele tem um bom texto, mas é massacradro pelo Cinform, que o usa de forma excremental para alcançar um público que não seja das classes C e D. Aí ele vira um grande idiota, porque não entende muito bem de música, se indispõe com a classe artística e se queima para o resto da vida”.

A atuação de Igor Matheus provocou reação até mesmo do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe que tentou interromper a continuação da coluna sob o argumento de ser proibida a assinatura de matérias jornalísticas por estagiários. Porém, por se tratar de um equívoco, a coluna continuou. “Estavam achando que meu vínculo com o Cinform era como estagiário do caderno de cultura e que minha única atribuição era a coluna. Mas sou funcionário do Caderno de Esportes.”, afirmou Igor Matheus.

Há que se considerar a contribuição positiva que essa polêmica trouxe ao meio musical do Estado, pois mobilizou a classe afetada e acarretou num maior interesse e visibilidade do público acerca de obras sergipanas que poderiam passar despercebidas anteriormente. Entretanto, a grande reclamação da classe artística em relação ao trabalho “de crítico” de Igor é a maneira quase debochada com que escreve sobre as obras da classe, em que não considera as dificuldades enfrentadas por eles, como falta de recursos, equipamentos, referências e até de uma educação apropriada. Suas críticas não ajudam a resolver esses problemas. Sobre isso, Igor sentencia: “Falta de instrução musical acadêmica e falta de dinheiro nunca impediram o surgimento de sujeitos como Noel Rosa, Ary Barroso, João Bosco. Dificuldade é até ingrediente a mais, vide os anos de chumbo aí. Quem tem boas idéias as tem em qualquer lugar, em qualquer situação”.

Igor ainda mantém um blog dedicado às resenhas. Para acessá-lo,
clique aqui.

Por Thiciane Araújo

Um comentário:

Anônimo disse...

O problema é que pelo fato de termos menos expressão no cenário cultural nacional se criou a idéia de que tudo o que se produz aqui é bom, mas só falta reconhecimento. Isso é um grande equívoco. Gente boa e ruim existe em qualquer lugar. Também acho os textos de Igor Matheus ácidos, mas alguém já conheceu um texto de crítico que não fosse? (Desculpem-me a ignorância, mas, eu, nunca fui apresentado a nenhum.) Enquanto continuarem com essa idéia de que todos são bons e fazem coisas sempres espetaculares a crítica sempre soará como ofensa e a músic sergipna crescerá muito pouco.