18 janeiro, 2009

Contexto entrevista Grupo Nação

Formado por Isal da Floresta (flauta, apitos, efeitos), Elvis Boamorte (percussão) e Artur Barreto (violão), o Grupo Nação surgiu no fim de 2008. A proposta era tentar ganhar um espaço de apresentação na VI Bienal de Arte e Cultura da União Nacional dos Estudantes, a se realizar em Salvador entre os dias 20 e 25 de janeiro. Exitosa, a banda parte para a Bahia nessa segunda-feira, 19, para mostrar a sua música muito influenciada pela temática indígena – mas antes de ir concedeu ao blog do Contexto uma entrevista e uma amostra de seu som, que seguem abaixo.

CONTEXTO ON-LINE: O que é o Nação? Como foi que ele surgiu?

Elvis Boamorte (EB): Começou através de Isaías [“Isal da Floresta”], ele meio que fez uma canalização. Através de Isaías veio Artur... Então eu entrei para a formação e daí se criou esse envolvimento todo. Mas a base mais forte veio de Isaías. É uma coisa mais recente, a gente começou a um mês da Bienal.

Isal da Floresta (IF): A gênese de tudo foi a Bienal. Por isso que eu digo que se fosse programado não tinha acontecido.

EB: A idéia mais é expandir mesmo, partir para várias tribos...

IF: Até porque não é só um trabalho de música, mas também um projeto de pesquisa – de tradições, de busca para a vida.

EB: Uma coisa espiritual...

IF: Quando você penetra dentro de algo que você gosta de estudar, de buscar, de saber... Você passa a “ser” também essa coisa que você aprende. Aprender e ser – o que não convém para você ser, você separa; ao que convém, você adere e vai crescendo.

CONTEXTO ON-LINE: De onde veio o nome da banda?

IF: A gente se denominou como Grupo Nação com a intenção de falar que cada um de nós é uma “nação” – dentro de tantas “nações” nos influenciando, a gente se torna uma nação pessoal, peculiar.

EB: Dando uma estudada na vida dos xocós [grupo indígena da Ilha de São Pedro, município de Porto da Folha, Sergipe], vimos que eles se formaram a partir de várias tribos...

IF: Por isso a idéia de “nação”... Porque a gente está trabalhando com os xocós, mas daqui a pouco nós estaremos pegando outras tribos, envolvendo outras culturas também nesse trabalho. E, para formar cada vez mais a nossa “nação interior”, a gente vai buscar outras “nações” que existem aí para influenciar a nossa musicalidade.
Hoje estamos trabalhando com música indígena, mas amanhã podemos pegar outros folclores. É uma atividade meio que de integração espiritual, porque essas músicas são geralmente usadas para rituais sagrados... E aí passa também a ser também algo um pouco místico, e o místico indígena se mistura com a questão da natureza. Há uma “modernidade” muito avançada entre as tribos que se denominam “ancestrais”.
Esse mundo que a gente vive é muito artificial; esse não é o mundo natural. É um mundo construído pra gente viver, um mundo de civilização, de casa, de rua. E eu acho que essa artificialidade deixa o homem de hoje muito frustrado. Os indígenas conseguem entrar dentro da natureza, usar tudo que se deve, que se pode, e sem destruir, sem degradar... E continuar a vida.

CONTEXTO ON-LINE: Então vocês pesquisam a musicalidade xocó lá na aldeia mesmo?

EB: Lá no local mesmo.

IF: Tem um CD que inspirou a gente a fazer essas músicas: o disco “Xocós”, produzido pelo Neu Fontes [Irineu Fontes, músico e produtor musical sergipano]. A gente pegou uma música de lá, inclusive – “Pé de cruzeiro” –, que foi a música selecionada para a Bienal da UNE.

EB: A gente imaginava que só ia apresentar um trabalho lá, essa “Pé de cruzeiro”, mas surgiu a oportunidade de expandir mais o show, e aí a gente pegou mais duas músicas, “Alto do tempo” e “Piolelê”.

CONTEXTO ON-LINE: Vocês adicionam outros elementos a esse trabalho?

EB: O canto é o que já existe – nós colocamos o instrumental, no caso.

IF: A gente transformou o canto em instrumental... Mas como ia ficar muito curto, decidimos que, na apresentação, que é de 25 minutos, faremos o instrumental da “Pé de cruzeiro” primeiro, para depois cantá-la.

EB: Até para poder mostrar como é o canto deles [dos índios xocós]. Como o projeto é pequeno, começando agora, não tem muito material. Fica mais a flauta, o canto e os apitos, a viola, além do pandeiro, da faia. A gente fez na flauta o som do canto.

CONTEXTO ON-LINE: Vocês falam de um som místico, espiritual. De que forma vocês buscam passar isso para quem escuta?

IF: A gente faz muito efeito de pássaro. Queremos passar uma ambientalização, é como se você estivesse em um lugar de paz. Às vezes a gente fica variando, coloca uma coisa meio “psicodélica indígena” [risos]. É um som meio profético, aquela coisa de... [assobia].

EB: É como se você se sentisse dentro desse ambiente.

IF: [sopra um apito que simula canto de pássaro].

CONTEXTO ON-LINE: Esses apitos são de origem indígena ou vêm de outra parte?

IF: Não, eles são bem convencionais.

EB: Podem ser encontrados até no mercado, naqueles balaios de venda...

IF: Botando esses elementos e unindo outros a gente vai buscando outros tipos de efeitos.

EB: O próprio maracá...

IF: Que é um instrumento que, segundo algumas tribos, chama os espíritos, chama os “caboclos da floresta”... encantada [risos].

EB: A idéia é mais ou menos essa: transmitir ao máximo a sensação do que está tocando a gente, de quem o criou... E no próprio ambiente que foi criado, que é essa questão da mata, do som da natureza... [transmitir a sensação de] Que você possa fechar os olhos e sentir aquele cheiro da terra.

IF: O homem se separou muito da natureza...

CONTEXTO: A apresentação de vocês na Bienal vai ser a primeira ao público. E depois?

EB: Depois disso a idéia é a gente voltar para cá naquele foco de pesquisa, e expandir mais a idéia, buscando mais fontes, estudando muito mais – e trazendo mais elementos.

IF: E fortalecer mais a parte dos xocós passar mais tempo lá [na aldeia], já que a gente só fez uma “pesquisa-relâmpago”.

Clique aqui para ouvir a canção “Alto do tempo”.
Por Ricardo Gomes

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom a propostar do grupo estpero que sigam com essa trabalho de pesquisa porq a temática é muito interessante, e a responsabilidade também de trabalhar com músicas sagradas tbm ... abraços garotos e sucesso quero ver esse grupo crescer