24 janeiro, 2009

"A relação com a música vem de antes de mim"

Desde que apareceu na música sergipana, em 1981, a aracajuana Joésia Ramos contabiliza seis discos gravados – um coletivo, onde participa com as amigas Luhli e Lucina, Ney Matogrosso, Jean e Paulo Garfunkel, Bené Fonteles, Miltinho Edilberto e a Marta Strauch e cinco próprios – e uma parceria de vinte anos com o Grupo Imbuaça.


As 15 faixas de “Os Desvalidos”, mais recente álbum da criadora do “Forró do Rabecado”, - que agita as noites dos sergipanos,proporcionando uma mistura de suas composições às de nomes como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Alceu Valença, Marinês e Elba Ramalho, por exemplo – é resultado não só dessa parceria, mas da união à poetisa Maria Lúcia Dal Farra e ao escritor Francisco Dantas.

Quem ouvir o disco vai poder conferir um registro da trilha sonora do espetáculo encenado pelo Imbuaça, baseado na obra homônima daquele escritor sergipano. Joésia falou ao Contexto não só sobre o novo trabalho, da sua intensa afinidade com a música e da tão polêmica relação artista x crítico.

Contexto Online - O que você vem trazendo no seu novo álbum "Os Desvalidos"? Como foi escolhido o repertório?

Joésia Ramos - Os Desvalidos é um disco com 15 faixas, em parceria com a poetisa Maria Lúcia Dal farra e com o escritor Francisco Dantas.

CO- Em quais aspectos o nome do disco se liga à obra homônima de Francisco Dantas?

JR - O disco é a trilha sonora da peça feita sobre o livro do escritor Francisco Dantas, pelo Grupo Imbuaça de Teatro de rua.

CO- Quais são as principais dificuldades de gravar e lançar um álbum em Sergipe?

JR - Bom, temos que produzir o disco, encontrar patrocinadores para aquelas idéias e isto é sempre o pior momento.

CO- E quais os melhores aspectos de se firmar uma carreira no Estado?

JR - Não penso nisto. A minha relação com a música é muito antiga, do tempo antes de mim, não penso comercialmente.

CO- Como é a sua relação com os críticos daqui? Como você analisa a postura deles com relação não só ao seu trabalho, mas como dos demais artistas locais?

JR - Bem, não temos aqui um leque de críticos de arte. O que você faz não reverbera,não gera idéias novas, ou não ecoa. Apareceu um candidato a crítico ainda em formação, que escreveu no jornal Cinform, com potencial, fôlego e coragem, porém, com um nível de deselegância, arrogância, acidez e histeria aniquilando a própria tentativa da visão crítica pura. Sinceramente, somos órfãos de críticos, graças a Deus! Gosto de ouvir opiniões e estou aberta para qualquer opinião que venha relativizar, desconstruir com ternura, me encher de fôlego pra continuar. Sem isso, não me interesso...

CO- Já são sete anos do Forró Rabecado, como é que se caracteriza esse estilo que é uma criação sua?

JR - O Forró da Rabeca é uma proposta de revisitar clássicos da música, dos grandes compositores nordestinos, como Luis Gonzaga, Sivuca, Dominguinhos e outros, mesclados sempre pelas minhas composições e ainda explorando a sonoridade antiga dos violinos, em encontros com outros instrumentos como gaitistas, sanfoneiros ou guitarristas. É um laboratório diferente a cada ano, onde buscamos ser dançantes e harmonicamente ricos. Divertimo-nos muito no pequeno espaço que ocupamos no cenário do São João. Se quem nos assiste, dança pra valer, então, penso, valeu!

CO- Você compõe trilhas para o Grupo Imbuaça há vinte anos, como funciona essa parceria e qual o segredo para ela durar tanto?

JR - Primeiro quero saber sobre o roteiro e qual a idéia central. Depois eu sinto se é para mim a “coisa” ou não e em geral, quando é, eu musico sobre o roteiro. No caso de “Os Desvalidos” a trilha foi criada a partir do romance e o roteiro da peça oi escrito sobre a trilha e para esta trilha, quase um musical. Aí eu viajo... Agora porque eles me chamaram tantas vezes é uma pergunta para ser respondida pelo Imbuaça. Fizemos "As irmãs Tenebrosas"(cordel), "A Farsa dos Opostos", o CD "Imbuaça 20 anos de Teatro de Rua" e "Os Desvalidos".

CO- Seu trabalho anterior ao "Os Desvalidos", “Levante-se Amor - Joésia Ramos canta Maria Cristina Gama”, foi composto por 15 poemas escolhidos entre 100. Como foi escolher apenas essa quantidade?

JR - O Levante-se Amor foi projeto da lei Municipal de Incentivo à Cultura e eu fiz o projeto para gravar 15 faixas, então, foram 15. Difícil foi escolher as tais faixas, porque tínhamos - eu e a Maria Cristina - desejos diversos, diferentes. Então as decisões nunca foram fáceis.

CO- Como foi trabalhar com esse disco, já que ele traduz uma parceria?

JR - Após a escolha das músicas, a coisa fica entre eu e os músicos e o trabalho de fazer um disco é para mim extremamente prazeroso, tem vida própria. Eu sei quando começo, e quais músicos vou convidar, depois disso é uma incógnita.

CO- Como foi a descoberta da música em sua vida e o que te estimulou a investir e permanecer na carreira musical?

JR - Desde a infância.Todas as brincadeiras eram por aí. Investir e permanecer na música é opção de vida; minha vida é com música; não concebo a minha vida sem a música! Mas eu não sobrevivo só da carreira, pois para isto teria que fazer concessões que nunca fiz e não farei. Sou homeopata e trabalho intensamente as duas áreas da minha vida.

Por Diógenes de Souza

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