22 janeiro, 2009

Trânsito de motos gera polêmica na UFS

A placa antiga e descascada informando “Proibido tráfego de veículos”, pregada numa das várias passarelas que se bifurcam por entre os prédios acadêmicos da Universidade Federal de Sergipe, reflete uma situação de indiferença. Perante um impasse simples de ser resolvido, tanto a instituição como os motoristas se acomodaram: sob o aviso, várias motos enfileiram-se ao longo das vias de concreto destinadas aos pedestres.


Agindo de forma inadequada, como dirigir em alta velocidade, alguns motoqueiros despertaram a indignação de estudantes, professores e servidores, o que resultou em queixas e reivindicações dirigidas ao Departamento de Assuntos Acadêmicos (DAA). Licianne Pimentel, aluna de Engenharia Química, decidiu enviar uma observação ao departamento após um ocorrido específico. “Eu estava andando pela passarela que liga o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia ao Diretório Central dos Estudantes quando fui surpreendida por um motoqueiro buzinado e gritando ‘Sai da frente’ de forma ignorante. Esse fato foi o estopim que me levou a fazer essa observação ao DAA”.


A queixa foi publicada em um dos informes eletrônicos do departamento, conseguindo o apoio de outros estudantes e professores e dando oportunidade aos motoqueiros de contra-argumentar. Tiago Barreto, estudante de Administração, sublinhou a falta de segurança que a universidade proporciona em relação aos veículos: “Nós motoqueiros estacionamos em frente às passarelas e didáticas não com o intuito de atrapalhar a passagem dos pedestres, mas pura e simplesmente por não haver um espaço seguro para estacionarmos nosso meio de transporte”.


Engrossando o coro, o também estudante de Administração Charles Diego não gostou da generalização presente nas queixas contra motoqueiros: “Eu tenho moto e a estaciono, como todos, no mesmo lugar. Mas nunca na minha vida buzinei ou pedi para alguém sair da frente; sempre respeitei os pedestres e muitas vezes dirijo a cinco km/h”. Ele admite percorrer as passarelas em alta velocidade quando não há pedestres à vista: “É tudo uma questão de flexibilidade”.


Por outro lado, há quem não se importe em deixar o veículo dentro de prédios, ao lado de salas e núcleos acadêmicos. “Abusam dessa forma por não se importarem se impedem a passagem ou desrespeitam o trânsito. Eles estacionam onde acham mais cômodo”, diz Licianne. Tiago observa que não são somente motos os veículos estacionados em local inapropriado. “Os motoristas de carro agem da mesma forma. Se desviarmos um pouquinho o foco das motos, veremos dezenas de carros destruindo calçadas para estacionar próximo às didáticas”.


De acordo com os responsáveis pela supervisão da segurança na UFS, José Raimundo de Jesus e Marcos Virgílio Silva, as medidas já adotadas para diminuir o incidente não obtiveram sucesso. As placas de “Proibido Estacionar” são ignoradas e tampouco funciona chamar a atenção dos motoristas (tanto de automóveis quanto de motos), que estacionam o mais próximo possível das salas de aula. “Na maioria das vezes que nos dirigimos aos estudantes somos maltratados. Ouvimos frases do tipo ‘O veículo é meu e estaciono onde quiser’”, diz Marcos. “Muitos nem sequer respondem, fingem que não estão escutando”.

Raimundo acredita que a forma mais eficaz de se respeitar o regulamento seria uma espécie de punição financeira. “Nós brasileiros somos assim, só sentimos quando pesa no bolso. Sem multa não há obediência”, esclarece. Mas um sistema de multas em uma universidade jamais será implantado, por não ser de acordo com a lei.


Os dois afirmam que há seguranças circulando em todos os estacionamentos da UFS e têm conhecimento de apenas um roubo de veículo, ocorrido há mais de dois anos: uma mobilete que estava estacionada ao lado do DCE.


O conflito poderá ser diminuído com a construção de um local especial para motos e bicicletas, inserido em todos os estacionamentos cobertos. O projeto prevê execução para daqui a três meses. “Esse atraso se deve às outras construções em paralelo aqui na universidade”, informa o vice-reitor, Ângelo Antoniolli. Segundo ele, no futuro será implantado um sistema de fiscalização eletrônica, contribuindo para a melhoria da segurança.


Raimundo e Marcos acreditam que esse projeto já deveria ter sido executado há muito tempo. “A universidade tem atitudes menos administrativas e mais políticas”. E são uníssonos ao dizer que, mesmo com o novo estacionamento, muitos alunos continuarão adotando a prática atual e estacionando em locais impróprios.


Por Marianne Heinisch

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