06 março, 2008

Criacionismo ou Evolucionismo?

"É impossível crer em Deus se não crer que ele criou todas as coisas. Se nós não sabemos como explicar as coisas, não devemos ter a pretensão de dizer que elas não existem porque não sabemos como elas podem ser explicadas". (Marina Silva, ministra do Meio Ambiente)

Desde que a ministra Marina Silva defendeu no 3ª Simpósio sobre Criacionismo e Mídia, em São Paulo, a proposta de incluir o criacionismo obrigatoriamente nas escolas brasileiras, o debate entre fé e ciência reacendeu, sobretudo na Internet.

A polêmica existe porque o evolucionismo é, no momento, a tese adotada pelo meio acadêmico-científico para explicar a origem das espécies. Uma pesquisa realizada há nove anos, nos Estados Unidos, e publicada na prestigiada revista “Nature” concluiu que 70% dos cientistas mais proeminentes do país, os Membros da Academia Nacional de Ciência, não crêem em um Deus pessoal. Somado aos que têm dúvidas sobre o assunto, esse número supera 90%.

Mas, o que gera controvérsia não é o fato de a ministra declarar-se criacionista, e sim o fato de ela ser a favor da obrigatoriedade do ensino do criacionismo. Os defensores do evolucionismo argumentam que lecionar nas escolas um conteúdo cuja base é a fé seria inconstitucional, uma vez que o Estado brasileiro é laico.

Nem obrigatoriedade nem proibição

O fundamentalismo de ambos os lados acaba impedindo-os de ver a real situação organizacional da escola brasileira. Inexiste no Brasil uma definição impositiva de currículo. O que há são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que funcionam como norteadores de propostas curriculares, mas não definidores. A Lei 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), conferiu às escolas brasileiras autonomia para planejarem e organizarem seus currículos. Nesse sentido, obrigar que as instituições escolares introduzam em seus currículos determinada teoria representa uma quebra dessa autonomia conquistada ao longo de lutas históricas.

Por outro lado, o fato de o Estado brasileiro ser laico não impede que o criacionismo também seja lecionado nas escolas. Laico é o Estado que não professa, oficialmente, nenhum credo religioso. Assim como nenhuma religião interfere, diretamente, nas decisões de governo, o Estado também não interfere em nenhuma questão de fé. Por isso, apesar do laicismo, a LDB, dentro dos limites da constitucionalidade, em seu art. 33, contempla o ensino religioso. Obrigatório para a instituição de ensino e facultativo para o aluno, porém constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental de todo o país.

A professora da disciplina Ensino Religioso da Rede Pública Municipal de Ensino de Aracaju, Maria de Fátima Machado Araújo, explica como se dá esse tipo de estudo. “O que o ensino religioso das escolas da rede municipal de Aracaju busca é ligar o homem ao transcendente. Nós, em hipótese alguma, queremos ser confessionais. Nesse caminho, trabalhamos com as duas visões: o criacionismo e o evolucionismo”.

Por ser a tese que venceu, o evolucionismo predomina nos livros didáticos e nos programas de concursos, inclusive vestibulares, de todo o país. A LDB “tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando” (art.2º) e está preocupada com a formação do cidadão que dialoga com o mundo que está a sua volta, então não há como fugir ao ensino do evolucionismo. Mas nada impede que o professor, se achar necessário, utilize outros conceitos em suas aulas, desde que, por uma questão legal e de ética, não promova a catequização dos alunos. “Na sala de aula eu dou ênfase às duas teorias sem querer opinar o que é certo e o que é errado, porque ambas são teorias”, explica Carlos Messias Gomes Oliveira, professor de ciências da rede pública estadual e municipal.

Alguns livros didáticos de ciências, como o de Nélio Bizzo, no capítulo em que tratam da criação do mundo, procuram citar também a visão “religiosa”, mostrando que há outras concepções, e não há aí nenhuma irregularidade.

Além da Virgem Maria

O criacionismo não é exclusividade do cristianismo. Durante mais de 30 séculos a crença criacionista perdurou como verdade absoluta em diversas partes do mundo. Hoje, é o evolucionismo que domina o meio científico como verdade absoluta. Contudo, existem outras concepções acerca da criação do mundo, dentre elas o evolucionismo teísta, tese que tenta conciliar as duas visões antagônicas: para essa teoria, o evolucionismo não anula o criacionismo, uma vez que só é possível evoluir a partir de um ponto, esse ponto é o princípio, e o princípio é Deus.

Católicos e protestantes que, dentre outras coisas, já divergiam quanto à santidade de Maria, divergem também quanto à teoria a ser adotada para explicar a origem da vida. Os protestantes são criacionistas convictos, enquanto os católicos colocam-se como evolucionistas teístas.

Em 1996, o Papa João Paulo II enviou à Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano documento reiterando a posição oficial da Igreja Católica Apostólica Romana a favor da teoria da evolução. Segundo o documento, a teoria da evolução é mais que apenas uma hipótese e é compatível com a fé cristã. Entre os cientistas católicos já há quem afirme que os seis dias da criação não corresponderiam à contagem de tempo que é usada na atualidade, pois poderiam se referir, por exemplo, a eras.

Entre os protestantes é grande o número de artigos, sites, blogs e outros meios em que a posição da igreja católica é duramente criticada.

Segundo o professor Carlos Messias, que é adventista do sétimo dia, não dá para crer em Deus e ser evolucionista. “Ou você crê em Deus e é criacionista, ou você não crê em Deus e é evolucionista”, afirma ele.

Já o professor de história, Alex da Silva Barreto, católico de formação, pensa diferente. “Cada um tenta explicar o mundo à sua maneira, uma forma não anula a outra. Como qualquer teoria, está sujeita a interpretações”, conclui.

Veja mais em:

A farsa de Charles Drawin

A farsa criacionista

Por Luciene Oliveira

7 comentários:

Anônimo disse...

Como previ, a matéria foi mal conduzida...fala-se de uma suposta farsa de Charles Darwin como se a Teoria proposta por ele fosse um postulado(dogmático) cristão imutável, como o 'criacionismo'. A teoria de Darwin vem sendo testada, atualizada e debatida há mais de 200 anos,e, por isso, faz parte dos parametros curriculares.
Já o criacionismo, em que revista científica foi publicado? Houve comprovaçao? Quem foi o cientista responsável?
Não partirei nunca pro debate de Crença, por razões óbvias. Se querem ensinar o criacionismo nas escolas, coloca nas aulas de religiao ou ao lado de estorinhas de mesma legitimidade como a do boi da cara preta ou do saci pererê.
No mais, colocar o tal postulado cristão como 'alternativa' é abir precedente para qualquer teoria nada convencional. Além das outras religiões que poderiam se sentir desprezadas, as aves poderiam tentar instituir o 'cegonhismo' também, argumentando com o mesmo fervor religioso de que todos nascem de cegonhas.
Qüen, quen, quen...

Anônimo disse...

Colocar site cristão para falar asneiras nada científicas sobre Darwin tá ficando chato hein...por favor, dá pra fazer muito melhor que isso.
Propus inicialmente um site científico para rebater o mito do criacionismo e já me vieram dois sites marcadamente religiosos como contraponto.
Repito, isto nunca foi uma discussão de crença.
Charles Darwin era católico quando elaborou seus estudos.
Não é nada pessoal com a repórter da matéria, apenas nao concordo (em nada) com o direcionamento que a mesma tomou.

Atenciosamente,
Luiz Paulo C. Teixeira

Raquel Brabec disse...

Primeiro, parabéns pela matéria, Luciene.
Gostaria de pôr alguns pontos aqui, só a título de interesse.

Primeiro que a farsa de Darwin existe independente de comparações. O criacionismo é apenas uma das teorias que aponta as falhas e buracos da explicação do cientista britânico sobre as mutações das espécie.

Ah, bom lembrar que a bíblia possue uma história rica - e igualmente controversa - de dois mil anos. Bastante tempo, concordam? Desmerecer sua importância para a civilização atual beira a ingenuidade.

Não debater questões religiosas é no mínimo estar desatualizado. Esse é um dos temas mais polêmicos inclusive no meio científico. Estudiosos renomados também discutem Deus e Ciência.

E se algum dia me deparar com uma cegonha fervorosa, ouvirei com o maior prazer seu ponto de vista. Até mesmo as aves merecem respeito.

Anônimo disse...

O juiz Luiz Paulo já emitiu sua sentença: a matéria foi mal conduzida.
Por favor Luciene, refaça imediatamente!

Nosso colega é mais uma vez superficial ao alegar que há um muro de berlim entre ciência e religião, "razão e fé”. (muro de Berlim não, pois até esse já caiu. Suas premissas são as seguintes (e aqui cito Olavo de Carvalho – ó horror!):

“1. Religião é apenas matéria de fé irracional e fanatismo, portanto tudo o que se alegue em defesa dela é também apenas expressão de fé e fanatismo, incluindo dados históricos, documentos, testemunhos, demonstrações lógicas e até as simples definições dos termos.

2. As opiniões de Rodrigo Constantino(/Luiz Paulo) sobre qualquer assunto, incluindo sua ignorância a respeito, são "a ciência e a razão", portanto ao atacá-las você é um inimigo da razão e da ciência.

Em decorrência da premissa número 1, você não tem o direito de tentar apresentar provas contra o que quer que venha da boca de Rodrigo Constantino. Quanto mais insista em fazê-lo, mais estará provando apenas sua fé irracional e fanática. Não tem também o direito de definir seus próprios termos, que serão interpretados sempre no sentido constantínico originário por mais que você advirta que esse sentido é impróprio.

Embutida nessa premissa está a crença -- já de há muito desmoralizada no campo dos estudos lógicos, mas que para Constantino constitui o suprassumo da racionalidade científica -- de que só existem dois tipos de juízos, as afirmações empíricas da ciência natural e as expressões do sentimento e da fé, inteiramente alheias à discussão racional.

(...)

Embora essa crença tácita perpasse todos os argumentos de Constantino, ele insiste em que não está condenando todos os crentes como fanáticos irracionais, só alguns deles. Outros, no seu entender, são pessoas normais e até um pouco racionais. Quais são eles? São aqueles que admitem que sua fé é uma crença privada sem nenhum direito de argumentar racionalmente em público ou, muito menos, de pretender que o objeto de sua crença exista na realidade objetiva. A fé legítima, no entender de Constantino, é aquela que declara: “Creio em Deus embora saiba que Ele não existe.” Se você consente em admitir que sua religião é um vício privado, um delírio pessoal, você tem todo o direito de praticá-la em casa como se pratica a masturbação ou o sexo anal – jamais o Estado democrático interferirá na sua vida privada. Logo, nem todos os religiosos são fanáticos: só aqueles que acreditam na sua religião e saem argumentando em favor dela. Como, ao mesmo tempo, Constantino desafia esses religiosos a discutir racionalmente com ele, o fato mesmo de que tentem fazê-lo em vez de admitir logo de vez que suas crenças são irracionais e indefensáveis constitui a prova de que são fanáticos que fogem à argumentação racional.”

Júlia da Escóssia disse...

Velho que discussões rídiculas - falo pela parte de todos.
Deveriamos aqui comentar sobre como a matéria foi conduzida e, ao meu ver, foi bem, pois tentou mostrar os dois lados do problema, prevalecendo a neutralidade do repórter, como deveria.
Não devemos confundir opiniões pessoais, se acreditamos em algo ou não; ou se gostamos um do outro ou não, até porque isso é muito
imaturo para alunos do 4º período, não acham? Eu hein!
Enfim...parabenizo Luciene pela matéria independente da minha crença religiosa.

Anônimo disse...

Antes de mais nada eu queria dizer que respeito a liberdade de opinião. Mas ensinar criacionismo nas aulas de ciência seria ensinar uma explicação mitológica.
Um exemplo que costumo usar é o do Martelo de Thor. Imagine que houvesse um grupo de pessoas que acreditassem que os raois e trovões fossem causados pelo martelo do deus Thor e quizessem que isso fosse ensinado nas aulas de ciências como uma "teoria alternativa" à diferênça de potencial elétrico nas nuvens. É a mesma coisa.
E não adianta dizer que evolução também é questão de fé, uma vez que ela é baseada em observações empíricas (assim como a diferença de potencial nas nuvens de tempestade).

Anônimo disse...

Resumo para vc: criacionismo é coisa de gente retardada.