12 maio, 2008

Renascer promove atividades para mães e adolescentes

Fruto da desigualdade social. Retrato do descaso com a juventude. Resultado de uma família desestruturada. Não faltam definições para rotular o que se convencionou chamar de "menor infrator". Mas o fato é que, por trás desse tipo-ideal, existem crianças e adolescentes com seus medos, desejos e necessidades, como qualquer ser humano. Dentre esses sentimentos, também existe a carência de afeto, um em especial: o afeto que apenas uma mãe pode dar.

Na tentativa de suprir essa carência, a Fundação Renascer e o Governo de Sergipe criaram programações especiais nas quatro unidades de medidas sócio-educativas do Estado. No CENAM (Centro de Atendimento ao Menor), USIP (Unidade Sócio-Educativa de Internação Provisória), Unidade Feminina e CASE (Centro de Atenção à Saúde de Sergipe), foram desenvolvidas atividades alusivas ao Dia das Mães, entre os dias 8 e 12 de maio.

CASE

Na Comunidade de Atendimento Sócio-educativo São Francisco de Assis foram realizadas atividades culturais envolvendo as mães dos adolescentes, na tarde do dia 9 de maio. Apresentações de rap, distribuição de presentes, culto religioso e mostra de fotos dos jovens marcaram o dia. "O objetivo é propiciar a todos um momento para homenagear as mães. De forma singela, mas honesta", definiu o tenente Aguiar, diretor da unidade.

O CASE é uma unidade de semi-liberdade. O jovem fica interno, mas tem autorização para ir à escola ou a outras atividades definidas. Nos fins de semana e feriados, pode ficar em casa, se for avaliado de bom comportamento. A instituição recebe adolescentes com progressão de medida sócio-educativa* ou que praticaram ato infracionário considerado leve, como pequenos furtos. Atualmente, existem 27 internos efetivos na unidade. Ainda há 29 jovens com medida suspensa, por não terem regressado das liberações ou por estarem cumprindo medida em outra unidade, como o CENAM.

Para Gutierre Cardoso, psicólogo da unidade, o evento tem sua importância por permitir uma aproximação maior das famílias. "Um dos objetivos da unidade é fortalecer os vínculos com a família, visto que muitos se encontram nessa situação pela falta dessa referência. Muitas vezes, a falta de apoio culmina numa situação problema", explica Cardoso.



Caio César, 18, está no CASE há oito meses, dois a mais que o previamente definido. Gosta de cantar rap. Cantou música do grupo Facção Central em homenagem às mães presentes no dia festivo. "Perdoa, mãe, pelas noites que te deixei sem dormir", um dos versos da canção. Ele não tem contato com o pai há algum tempo, mas diz não sentir falta por ter esse espaço recompensado pela genitora, dona Nadja. "O amor de minha mãe me preenche por completo", ressalta. Quando questionado sobre o futuro, responde: "Deus tem planos para todos. O que eu quero é arranjar um emprego quando sair daqui e levar minha vida adiante". Fala, com os olhos fugidios, que o convívio na unidade é bom, tanto com os colegas quanto com os agentes de segurança. Mas revela com breves palavras que "problemas existem".

V.V.S., 17, veio do CENAM recentemente. Está há apenas dez dias no CASE por ter a medida progredida. Sua mãe não foi ao evento, mas ele não ficou desacompanhado de uma figura materna. A homenageada do dia que o acompanhava era a mãe de sua filhinha, de um ano e dois meses. Segundo ele, a sua situação não decorre da ausência da referência familiar. Diz ainda que não haveria problema nenhum em repetir o tratamento que recebeu de sua família com sua filha. "Quero dar a minha filha o que não tive, felicidade", resume. Mas em momento nenhum agrega a falta de felicidade em sua vida à relação familiar.

Mas nem tudo é tão belo como as flores que ornamentavam o local. É o que afirmam alguns dos jovens. Reclamam do tratamento violento por motivos fúteis que recebem principalmente dos policiais, que dirigem o lugar. "Já levei um 'tapão' por causa de um copo descartável que caiu no chão e eu joguei no lixo. O policial disse que era pra deixar no lugar para a gente beber água nele", revela um deles. Ele ainda afirma que muitos jovens não retornam das liberações por não agüentar esse tratamento.

“Seja lá como for, tenha fé porque até no lixão nasce flor”, canta a sabedoria do gueto dos Racionais MC’s. Não que os espaços de medidas sócio-educativas devam ser comparados a lixões. Mas, de fato, esses jovens precisam de incentivo, agregar autovalor, para, apesar de tudo, enfrentar os desafios que a vida certamente trará.

*Progressão de medida sócio-educativa – Recurso que permite ao juiz da infância prolongar o período de internamento do adolescente em regime de semi-liberdade e, posteriormente, em liberdade assistida.

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Por Zeca Oliveira
Foto: Zeca Oliveira

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