Já é meio-dia. A entrevista está marcada para as 14h. Calculo o tempo provável para chegar pontualmente ao local combinado. No caminho, idéias de perguntas pouco criativas vão surgindo. “Quando o senhor percebeu que tinha um ‘dom’ para as artes?”. “Tem alguma escultura favorita?”. “Como vê o mercado em Sergipe?”. Anoto tudo num papel enquanto imagino como deve ser o meu entrevistado, o escultor Ruy Andrade. Talvez um senhor de idade, ranzinza e sem senso de humor, ou quem sabe uma pessoa carismática e alto astral – tomara.
Chego ao restaurante onde o escultor disse que estaria. Mas ainda falta meia hora! Será que ele chegou? Atravesso a porta de entrada. À esquerda, vejo um pequeno balcão e atrás dele uma moça. Ela logo me cumprimenta. “Boa tarde!”. Antes de responder, olho para as mesas na esperança de reconhecer (não sei como) Ruy – o celular sem crédito não me dá outra opção.
Chego ao restaurante onde o escultor disse que estaria. Mas ainda falta meia hora! Será que ele chegou? Atravesso a porta de entrada. À esquerda, vejo um pequeno balcão e atrás dele uma moça. Ela logo me cumprimenta. “Boa tarde!”. Antes de responder, olho para as mesas na esperança de reconhecer (não sei como) Ruy – o celular sem crédito não me dá outra opção.
Como nunca vi o Ruy, não sei como reconhecê-lo. Então pergunto, sem muita esperança, à moça da recepção: “Boa tarde, sabe me dizer se Ruy Andrade, o escultor, está?” A resposta não poderia ser melhor. “Olha, ele quase todos os dias almoça aqui, mas ainda não chegou. Aguarde um pouco, ele deve estar vindo”. Agradeço a informação, mas resolvo ir comer algo num outro lugar para “matar o tempo” – e não gastar muito.
Folheio meu caderno e leio a pauta que haviam me passado para a entrevista que logo farei. Ruy é baiano, considerado um dos melhores artistas em atividade no Estado e suas esculturas estão espalhadas, principalmente, por condomínios e prédios públicos. A poucos minutos da hora marcada, volto ao restaurante. A mesma recepcionista me diz que ele chegou, mas deu uma saída. “Será que já foi? Tão rápido!”, penso, antes de ouvir mais uma boa notícia da atendente: “Ruy deve estar voltando, pois o sorvete dele ainda está aqui”. Pelo visto ele é um cidadão que mantém uma rotina. Sempre almoça no mesmo lugar e nunca deixa de tomar seu sorvete.
Não demora muito até que entra no estabelecimento um homem sorridente e amistoso com todos. Ao olhar para mim, diz: “Foi você quem marcou a entrevista?”. É Ruy. Faço sinal de positivo. Ele pede para que eu o acompanhe. Subimos uma escadaria que nos leva ao primeiro andar do restaurante. Um ambiente agradável e ideal para uma entrevista. Ruy abre uma pasta e mostra várias fotos de esculturas suas. Já tinha visto muitas delas por Aracaju, mas percebo que nunca havia parado para procurar saber quem as havia feito. Começo a fazer perguntas.
De Gandu a Aracaju
Ruy Andrade (apenas um sobrenome mesmo) nasceu no ano de 1956 em Gandu, município localizado no sul da Bahia, próximo a Ilhéus, e que hoje tem pouco mais de 40 mil habitantes. Morou lá até os 16 anos, quando resolveu fazer o “colegial” em Salvador. Na capital baiana trabalhou em diversos segmentos, entre estes uma agência de publicidade. “Comecei a trabalhar com 18 anos”. Aos 25, ingressou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Formou-se com 30 anos. “As coisas comigo acontecem mais tarde”. Após conseguir o diploma, ficou mais de dez anos trabalhando em Salvador, até que em 2000 resolveu se mudar para Aracaju. “Quando eu vim de lá para cá um colega meu falou: ‘Tá maluco? Você já é um artista reconhecido aqui’. Eu respondi dizendo que Aracaju precisa muito mais de meu trabalho”.
“Quando menino”
Com apenas dez anos Ruy já demonstrava talento com as artes. Seus colegas de escola costumavam lhe pedir para que fizesse desenhos nos cadernos. “As primeiras coisas que eu pintava, quando menino, eram signos e escudos de futebol”. Nessa época, seu pai tinha uma pequena fábrica de sapatos. O que requer muito papelão. “Eu ficava montando formas com papelão”. Mal sabia ele que estava dando o primeiro passo rumo às esculturas.
Opção pela escultura
Ao sair da Escola de Belas Artes, a escultura não era sua preferência. Preferia a pintura. “Quando eu descobri a escultura, já tinha saído da escola [de Belas Artes] há muito tempo, comecei lá pelos 35 anos”. Sua escolha, um tanto que tardia, se deveu à percepção de que quase não havia oferta no mercado. “Poucas pessoas se dedicam à escultura porque é caro e difícil de fazer”.
Artista moderno
“O artista plástico nos dias de hoje não precisa de um ateliê em casa”. Ruy acredita que o artista moderno cria a qualquer hora. “A gente anda pela cidade e as transformações nos remetem a criar algor”. Outra característica está no isolamento. “É solitário, não trabalha em grupo. Talvez por causa do ego”, divaga.
A aversão à tecnologia e aos protótipos
O escultor se diz “anticomputador”. “Eu não faço nada em computador”. Apesar de reconhecer que é a tendência, ele não adere. No primeiro momento da criação de uma escultura, Ruy a desenha num papel. Em seguida reproduz um protótipo em papelão, “como nos tempos de menino”. Depois encontra o equilíbrio e a harmonia que procura para montar mais um protótipo, só que em metal. “De tamanho pequeno, uns 30 cm”. Agora é só ir até o futuro comprador. “É com esse protótipo na mão que o cliente vai avaliar”. Ruy nunca leva só um modelo. “Quando me encomendam uma escultura eu levo em geral três peças para que ele escolha”. Decisão tomada, o trabalho agora é com uma metalúrgica. “Porque o equipamento é muito pesado”. Todo o processo, da criação ao resultado final, dura um mês.
Valorização do Artista
Para Ruy, a pouca valorização do artista é uma dura realidade em vários lugares. Ainda que viva exclusivamente das artes, ele ressalta que isso é muito raro atualmente. “Em Salvador, hoje, talvez não tenha 50 artistas que vivam de seu trabalho, eu diria que 20. Aqui [em Aracaju] não tem nem cinco”.
Neoconcretismo
Quando estudou em Salvador, Ruy teve vários professores neoconcretistas. Uma evolução do concretismo. Essa é a escola na qual ele busca inspiração para criar. “São essas coisas dobradas e que lembram envelopes”. Já são 15 grandes esculturas espalhadas pelo Estado. Sem contar as de pequeno porte, que ficam em apartamentos etc.. Mas ele diz preferir fazer obras que todos possam ver.
Por Hádam Torres
Fotos: Arquivo do Jornal da Cidade
Fotógrafo: Heribaldo Martins
Um comentário:
gostaria muito de entrar em contato com Rui Andrede se vcs podem me ajudar com o mail dele, ficaria muito agradecido. O meu é :
robertocarbo@hotmail.com
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