05 dezembro, 2007

A Longa Caminhada pela Conscientização

No último final de semana foi celebrado “O Dia Mundial de Luta Contra a AIDS”. Instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), o dia 1º de dezembro tem por missão alertar a população de como prevenir-se contra a AIDS e de como combater o preconceito contra os portadores do HIV.

No lançamento da campanha deste ano, o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, lembrou a todos que a AIDS é uma doença diferente de qualquer outra, definindo-a como ‘problema social’. “Independente do nosso papel na sociedade (...), de uma forma ou de outra, todos nós vivemos com o HIV. Todos nós somos afetados por ele”, afirma.

Esse ano, a campanha de combate ao vírus no Brasil, onde vive cerca de um terço dos soropositivos da América Latina, teve como slogan “Sua atitude tem muita força na luta contra a AIDS”. A idéia era de reforçar, principalmente entre os jovens, o compromisso de exercer a sexualidade sempre de forma segura e de não deixar que o preconceito intervenha em nenhum tipo de relação social.

Jovens em risco


De acordo com o Ministério da Saúde (MS), é nos adolescentes que a epidemia tem crescido. Eles, que têm iniciado sua vida sexual cada vez mais cedo, desconhecem ou destemem os riscos da não utilização de preservativos. Não se atentam, por exemplo, ao fato de que em nosso país cerca de 85% dos casos de HIV têm como causa o sexo sem proteção.

Outra razão que fazem dos adolescentes o foco principal da atual campanha, é o fato de a maior parte da população infectada ter entre 20 e 29 anos. Levando em consideração que o tempo médio de manifestação do vírus é de oito anos, presume-se que eles o tenham contraído entre os 13 e os 24 anos, aproximadamente. E, por isso, que se têm concentrado os trabalhos de prevenção nessa faixa etária.


Sergipe contra a AIDS

Aqui no estado as celebrações de luta contra a doença tiveram início no dia 23 de novembro, com o evento ‘Geração sem AIDS’. Composto basicamente de perguntas e respostas, convidados discutiram acerca das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e, assim, tiraram dúvidas de quase 1.000 adolescentes reunidos na Quadra Esportiva do Colégio Dom Luciano José Cabral Duarte.


O grande evento da campanha local foi, dessa vez, a 6ª Caminhada da Prevenção, realizada no dia 30 de novembro, última sexta-feira. Concentrados na Praça da Bandeira, milhares de estudantes de mais de 40 escolas municipais e estaduais da capital, além daqueles de São Cristóvão e da Barra dos Coqueiros, aguardavam ansiosos pelo início do percurso que os levaria até o Mercado Albano Franco.


Quando perguntados sobre a importância em participar do evento, alguns dos adolescentes diziam apenas buscar diversão, mas a maioria das respostas indicava consciência e maturidade. Maria Aparecida Santos Silva, de 15 anos, aluna do 7º ano do Colégio Municipal Oviêdo Teixeira, sabe que DST’s não são as únicas conseqüências da falta de prevenção. “É importante ‘pra’ nós que somos jovens, aprender a se prevenir para não cair na besteira de pegar AIDS e nem de engravidar”, disse referindo-se a duas de suas colegas que, na sua idade, já são mães.


Prevenção e Preconceito


O Coordenador Municipal do Programa DST/AIDS, José Eudes Barroso Vieira, conhece o problema da falta de prevenção em números: “Atualmente são 1.236 portadores de HIV acompanhados pelo Serviço de Atendimento Especializado (SAE), 688 desses pacientes têm AIDS”. No entanto, esses valores têm como base apenas os casos notificados. Há muitas pessoas que têm o vírus e não sabem por nunca terem feito o exame.


Por causa desses casos não diagnosticados, Vieira anuncia ser programada para o início de 2008 uma campanha maciça para estimular a população a fazer o teste do HIV. “Um serviço gratuito que pode ser sigiloso e que não precisa de agendamento”. Ele afirma que esse tipo de iniciativa é muito importante, pois ainda é grande o número de pessoas que mantêm relações sexuais sem a utilização de preservativos.


O medo de se submeter ao exame é apenas um dos diversos tabus relacionados à AIDS. Muitos ainda acreditam que portadores do HIV são necessariamente pessoas muito magras, tristes e acamadas, incapazes de trabalhar ou de praticar qualquer exercício físico. Porém, essas imagens não mais condizem com a realidade. Remetem somente a um tempo em que pouco se sabia sobre a enfermidade e não havia disponíveis bons coquetéis de medicamentos.


Foi nessa época, há 20 anos, com o intuito de melhorar a vida dos soropositivos e de proporcionar-lhes uma melhor visibilidade social, que o então médico Almir Santana (atual Coordenador Estadual do Programa DST / AIDS) passou a dedicar-se a essas pessoas. E, por tal atitude, também sofreu o preconceito. Almir acha inaceitável qualquer tipo de discriminação em nossa sociedade. Para ele, o caminho certo está para aqueles que lutam contra a epidemia e a favor da humanidade. É essa a outra face da luta: não só contra a AIDS, mas também contra o estigma da AIDS.


Por Christiane Matos

Foto: Christiane Matos

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