13 dezembro, 2007

O mercado negro de trabalhos acadêmicos

Concluir um curso universitário nem sempre é tarefa fácil. Principalmente quando se tem que correr contra o tempo “devorando” os livros para a produção da monografia. Um caminho trabalhoso para muitos alunos, mas facilmente contornado por tantos outros. Universitários sergipanos acham uma saída eticamente questionável, de eficiência comprometida e, além de tudo, criminosa.

O mercado das fraudes em trabalhos acadêmicos funciona sem grandes mistérios. Os interessados podem encontrar anúncios como “digitam-se trabalhos” nos classificados do jornal e, até mesmo, em termos mais explícitos nos murais informativos das faculdades. Existem ainda vários sites especializados na produção de simples artigos a dissertações de mestrado.

Nos meses que antecedem o final do período letivo, o fluxo da produção de monografias fraudulentas aumenta bastante. Segundo Ofélio, um dos fornecedores no mercado, a pressão nessa época justifica a grande demanda por trabalhos fraudados. Ressalta ainda que “o preço de uma monografia agora em dezembro pode custar até R$ 400, dependendo do prazo a ser cumprido. Trabalhamos e cobramos em cima do prazo estabelecido pelo cliente”.

Em Aracaju, negociações mais detalhadas de uma monografia acontecem geralmente na residência do fornecedor. Os próximos passos dependem da eficiência na elaboração do plágio, conforme exigência do cliente, que pede sigilo absoluto de sua identidade - cuidados nem sempre revertidos em sucesso na apresentação à banca examinadora da instituição de ensino. Se o “tiro sair pela culatra”, a banca sequer é convocada para apreciação.

Punição

A professora de Direito do Trabalho da Fase (Faculdade de Sergipe) e de Monografia da UFS (Universidade Federal de Sergipe), Dayse Coelho de Almeida, define o plágio como um "furto do pensamento alheio”. Diz também que a situação é preocupante, “primeiro, porque há a questão dos direitos autorais do pesquisador que desenvolveu o texto copiado e, segundo, porque a ciência não evolui com o plágio, trata-se de um retrocesso”.

Quem for pego em fraudes de trabalhos acadêmicos em geral obtém nota zero. Em casos de monografias forjadas, além da reprovação, o próprio aluno se reconhece incapaz de produzir conhecimento científico, após anos numa faculdade. A Professora Dayse diz ainda que “caso a repressão não seja suficiente, cabe à Universidade caçar diplomas já expedidos, indiciar os responsáveis administrativa e judicialmente, chamando-os à sua responsabilidade civil e criminal”.

De acordo com Liliana da Escóssia Melo, professora de Departamento de Psicologia e Coordenadora do Mestrado em Psicologia Social e Política da UFS, tem sido cada vez mais freqüente fraudes em trabalhos na universidade. Entretanto, levantamento feito no Departamento de Assuntos Acadêmicos da universidade (DAA), constatou que não há processos de plágio em tramitação envolvendo alunos. A maioria dos casos descobertos geralmente é resolvida em reuniões departamentais, sem repercussão legal.

O Procurador Federal da Assessoria Jurídica da UFS, Paulo Celso Rego Leó, assegura que a situação cabe apenas medidas administrativas, como a reprovação do aluno, ao se constatar a fraude. Para reincidentes, pode haver conseqüências mais graves como a expulsão. O Procurador diz ainda que processos judiciais devem partir do autor lesado por ter seu trabalho copiado indevidamente e não da universidade. “O plágio é um crime contra o direito autoral. Portanto, o maior prejudicado é que deve se manifestar judicialmente”, comenta.

No mercado de fraudes em trabalhos acadêmicos, tanto quem compra como quem vende pode ser condenado em até cinco anos de reclusão por falsidade ideológica.

Prevenção

Que a tecnologia facilita o plágio de trabalhos acadêmicos, não há a menor dúvida. Controlar essa prática ficou tão complexo que nem sempre os sites de busca conseguem localizar exatamente a fonte copiada. Pensando nisso, hoje são desenvolvidos vários softwares aliados dos professores na correção de trabalhos.

O Ephorus é o software líder no mercado de anti-plágio. Inicialmente comercializado na Europa, mas já presente em algumas instituições brasileiras. Através dele, não é necessário perder horas vasculhando a Internet para constatar o plágio. Os resultados são mais precisos, o que faz o aluno pensar duas vezes antes de copiar seu trabalho.

Para o pró-reitor de graduação da UFS, Antônio Ponciano Bezerra, essa ajuda da tecnologia é bem vinda, mas desconhece discussões na universidade sobre utilização de programas anti-plágio. Ainda de acordo com ele, um ensino de qualidade e um melhor suporte técnico das faculdades, são fundamentais no combate à prática. “Prevenir o plágio é mais importante do que punir alunos despreparados para a pesquisa acadêmica”, afirma.

Por Getúlio Cajé

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